A confidente do Sagrado Coração de Jesus, Mar­garida Maria Alacoque, nasceu no dia 22 de julho de 1647 em Lantecourt, na paróquia de Vérosvres —Diocese de Autun, França. Seu pai, o honrado senhor Alacoque era tabelião real muito considerado e a sua família um modelo de autêntico cristianismo.

Como disse alguém, a cruz é a parteira dos grandes aconte­cimentos e foi no sofrimento que Nosso Senhor pre­parou a alma da sua confidente, pois a parte essencial da devoção ao Coração de Jesus é um amor reparador.

O lar de Cláudio Alacoque e de Felisberta Lamyn, os pais da nossa Santa, foi abençoado por Deus com sete filhos, dois dos quais morreram ainda peque­nos. Os padrinhos do Batismo de todos eles per­tenciam às mais ilustres famílias da região, devido ao conceito elevado que todos tinham ao tabelião Alacoque.

Aos quatro anos de idade, Margarida foi viver com a sua madrinha, a senhora de Corcheval, por esta assim o desejar, para lhe fazer companhia, pois era muito doente. Os pais concordaram e Mar­garida trocou o lar paterno pelo castelo de Corche­val, que ficava a uma légua de distância.

A fraca saúde da madrinha não lhe permitia dedicar-se ao cuidado da sua afilhada, por este motivo entregou-a a duas damas de companhia que ensinaram Mar­garida a ler, escrever, rezar e aprender o catecismo. Desde pequena, Margarida sentia grande amor por Jesus Sacramentado e a Santíssima Virgem.

A morte da madrinha fez com que Margarida voltasse para a casa paterna, onde foi surpreendida por outro des­gosto, pois nesse mesmo ano, em 1655, seu pai mor­re inesperadamente, deixando sua mãe viúva com cinco filhos, todos menores, e a casa comprometida com várias dívidas.

Para completar a sua educação, Margarida entrou para o Mosteiro das Clarissas de Charolles; os seus dois irmãos mais velhos foram para Cluny e os ou­tros dois para casa de seu tio Antônio Alacoque, que era pároco em Vérosvres.

Uma vez nas Clarissas, Margarida fez a sua pri­meira comunhão aos nove anos de idade. Mas uma grave doença colocou-a às portas da morte e fez com que novamente voltasse para casa. Quando chegou foi rodeada de carinho pela mãe e pelos irmãos. Todos os meios postos em prática para a sua cura pareciam inúteis. Margarida ia morrer. “Consagraram-me então à Santíssima Virgem, pro­meteram que se eu fosse curada, me dariam como sua filha no estado religioso.

Imediatamente, expe­rimentei uma proteção especial de Nossa Senhora, pois somente após esta promessa é que fui curada”, diz a nossa Santa. A mãe de Margarida não conse­guina colocar os problemas da sua casa em ordem e, com este pretexto, passaram uma procuração ao seu cunhado Troussaint Delaroche, que tomou a gerência dos negócios e se instalou em casa com sua mulher. Nesta casa estava a avó de Margarida com Catarina, uma filha que ficara solteira.

A nossa Santa na memória que escreveu a pedido do seu confessor, diz o seguinte: “Deus permitiu que a minha mãe confiasse a autoridade sobre a nossa casa a outros que, se valendo dela, nos reduziriam a mim e a minha mãe a um penoso cativeiro. Neste meu re­lado, não é minha intenção criticar estas pessoas, mas pelo contrário estou convencida de que atuaram bem fazendo-me sofrer. Como não tínhamos poder algum em casa, não nos atrevíamos a fazer nada sem licen­ça.

Era uma guerra continua; tudo estava fechado à chave, de modo que nem tinha como vestir-me para ir à missa, vendo-me obrigada a pedir roupa empresta­da. Confesso que sentia esta escravidão de forma muito viva. Como nem sempre podia ir à Igreja, refugiava-me a um canto do jardim ou no estábu­lo, me colocava de joelhos e desabafava com Deus, mas fazia-o sempre por intermédio da Santíssima Virgem. Passava dias inteiros sem comer nem be­ber.

Só, às vezes, por compaixão, algumas pessoas me davam um pouco de leite ou alguma fruta. De todas as minhas cruzes, a mais penosa era ver a minha mãe tão desprezada e humilhada na própria casa. Nas suas doenças, principalmente, a minha aflição era extrema, pois como ela estava entregue aos meus cuidados sofria muito, quando por estar tudo fe­chado me via na dura necessidade de pedir ovos e outras coisas necessárias aos doentes, o que não era para mim um pequeno tormento, em razão do meu jeito tímido e por ser recebida pelos aldeões com desprezo e pouco caso.”

Para confortá-la em suas provações, Nosso Se­nhor começou a aparecer a Margarida, na figura do crucificado ou do Ecce Homo, ou com a cruz às costas.

“Ao ver o Senhor, num estado tão lastimoso, todos os desprezos e privações e até pancadas me pareciam leves. As vezes, quando ia ser castigada, afligia-me de que as mãos ameaçadoras se contivessem e não descarregassem sobre mim todo o seu rigor. Dese­java muito fazer tudo a estas pessoas como minhas verdadeiras amigas e a minha maior satisfação era poder servi-las em alguma coisa.”

Por esta narração resumida e discreta de Santa Margarida em sua “Memória” avaliamos o que foi o seu sofrimento e como Jesus a preparou para a sua Divina Mensagem.

Ao Margarida completar dezessete anos e os ir­mãos se tornarem mais velhos, já na maioridade, eles tomaram para si a administração da casa e deram no­vamente à mãe o lugar que lhe competia. Devemos di­zer a bem da verdade que Troussaint Delaroche tinha sido um bom administrador, com isso a fartura e a paz voltaram àquela casa. Quando ele saiu com a mulher, deixou à cada e aos sobrinhos uma razoável fortu­na e as propriedades em ordem, não tendo estes senão de dar continuidade ao que lhes passou para as mãos.

Por estarem muito bem relacionados com as melho­res famílias da região, Margarida passou a ser convida­da para as festas realizadas nos castelos das redonde­zas e começaram a aparecer pretendentes à sua mão. A mãe de nossa Santa mostrava-lhe o grande desejo de vê-la casada para poder viver com ela.

Fazia-lhe ver o muito que tinha sofrido e como era preciso recompen­sar tantos desgostos e infortúnios, aproveitando a feli­cidade que Deus lhe dera. Margarida experimentava uma luta terrível entre o voto feito, o de se consagrar a Deus como sua esposa no claustro, aliás, era a grande inclinação e, do outro lado, o amor à sua mãe que cho­rava pedindo sua escolha pelo matrimônio.

Os eclesiásticos, consultados sobre a obrigação do voto, falaram que facilmente se obteria a dispensa da Santa Sé e, além disso, era muito duvidosa a obriga­ção do seu cumprimento por ser tão jovem. Enten­diam que o fizera levada certamente mais pelo dese­jo de concordar com o que sua mãe dissera, do que de se obrigar a coisa tão séria.

Várias vezes depois de regressar das festas, Nosso Senhor aparecia a Margarida repreendia-a, fazendo-lhe ver o que sofrera por ela e como aguardara a sua deci­são pelo cumprimento do seu voto. Margarida chorava, pedia perdão, flagelava-se, mas como não conseguia resistir às lágrimas da mãe, voltava para participar de novas festas. Certa vez, por ocasião do carnaval, chegou a mascarar-se. Vejamos como ela descreve o que Jesus lhe dizia:

“À noite quando despia aquelas malditas fardas de Satanás, o meu bom Senhor me aparecia flagela­do, todo desfigurado, e me fazia estas advertências e censuras. Que as minhas vaidades o tinham redu­zido àquele estado, que eu haveria de dar contas do precioso tempo desperdiçado; que o traía e perseguia depois de tantas provas do seu Amor comigo. Como tudo isso me impressionava tanto e fazia da minha alma tão viva chaga, chorava amargamente”. O tem­po passava, Margarida hesitava, então se decidiu.

Eis como ela conta o fato: “Um dia, depois da comunhão, o Senhor veio em meu socorro e fez-me ver que Ele era o mais belo, rico, poderoso e perfeito de todos os amores. Como eu havia sido a prometi­da, qual era o motivo de agora querer romper com Ele?”. Ele me disse ainda: “se assim me desprezares te desampararei para sempre; mas, se me fores fiel, nunca te deixarei e te farei triunfar de todos os meus inimigos, desculpo a tua ignorância porque ainda não me conheces, ensinarei a me conheceres e me manifestarei a ti.”

Uma luz celeste e uma grande fortaleza desceram àalma de Margarida. Ela renovou “o voto de castidade” decidida antes a morrer do que mudar. Mal saiu da Igreja, declarou à mãe e aos irmãos a sua firme resolu­ção e pediu que dispensassem todos os pretendentes.

Devemos dizer que a alma de Margarida nunca se contaminou com os contatos do mundo, mantendo-se sempre pura e com o coração imaculado.

O mundo tentou-a, mas não a corrompeu nem a manchou, pois Jesus, o seu Esposo, velava por ela. Mas se esta não se tivesse decidido por Ele, possivelmente se teria perdido. Margarida teve de resignar-se e ficar em casa por mais três anos, até que se abrissem as portas do Mosteiro da Visitação de Santa Maria em Paray-le-Monial.

A ordem da Visitação fora fundada por São Fran­cisco de Sales e Santa Joana de Chantal. O Mosteiro não ficava longe da casa natal da Santa.

Quem escreve estas humildes linhas, teve a sorte de visitar, numa das vezes que foi a Paray, a terra de Margarida Maria e a casa onde ela viveu e que se conserva em bom estado, da forma como era no tem­po em que a protagonista desta narrativa ali habi­tou. “Não posso descrever a emoção sentida ao pisar aqueles lugares santificados por Margarida Maria e pelo Coração de Jesus.”

2 Comentários

  1. o que deus traça o mundo não consegue mudar por maior que seja as tentação ela tinha que ser de deus o mundo para ela era mais uma iluzão a escolha dela foi perfeita quando deus queria ela do lado dele e nada ia afasta la do amor perfeito

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