Os casos de crianças com ansiedade aumentaram nos últimos anos. Será que os pais estão inadvertidamente contribuindo para isso por meio de expectativas irracionais?
Quando estava no final da adolescência, experimentei um surto de depressão e ansiedade que eu não desejaria ao meu pior inimigo. Foi, de fato, um problema médico causado por desequilíbrios químicos em meu cérebro. Nada de particularmente ruim ou traumático havia acontecido comigo, o que tornou a experiência ainda mais frustrante. Não tinha causa que eu pudesse identificar.
Entretanto, sempre fui melancólico, o que me deixa sujeito à ansiedade sobre minha mortalidade. Penso na ideia da morte e me preocupo com a natureza da existência. Aos 35 anos, já tive uma crise de meia-idade. Mesmo como um adolescente, eu já estava cheio de angústia e nas garras da ansiedade.
Era mais um estado de insatisfação, um mal-estar geral que me levou a questionar o motivo da minha existência e para onde minha vida estava indo. Enquanto isso, a maioria dos meus amigos festejava alegremente, praticava esportes e paquerava garotas. Parecia que eu era o único a lidar com a ansiedade.
Crianças e ansiedade
De acordo com o CDC (Centro de Controle e Prevenção a Doenças dos EUA), a ansiedade em crianças, uma sensação geral de insatisfação e pressão, tem aumentado constantemente ao longo dos anos. Mesmo as crianças que parecem ter muito sucesso – boas na escola e atletas, por exemplo – estão experimentando ansiedade. Por mais bem-sucedidas que sejam, elas ainda não acham que são boas o suficiente e têm uma vaga sensação de que a vida não é como deveria ser.
A infância costuma ser um período da vida em que tudo é novo e excitante. As crianças não se importam com o mundo. Mas esse tipo de infância despreocupada está desaparecendo rapidamente, já que as crianças agora experimentam tanto ansiedade quanto os adultos.
Motivos da ansiedade
Mas por que nossos filhos estão tão ansiosos? As causas são várias. Vão desde a depressão e o sentimento de isolamento ao estresse causado pelas redes sociais e à pressão da família para ter sucesso acadêmico. As crianças de hoje estão crescendo com smartphones nas mãos. Elas são expostas desde pequenas à televisão, a conteúdo sexualizado, videogames violentos e à competição de parecer feliz sem esforço nas redes sociais. Elas não estão preparadas para isso e estão emocionalmente sobrecarregadas, cercadas por estímulos constantes dos quais não podem escapar. É como se eles estivessem sempre no palco e não pudessem sair.
Isso me faz pensar: os pais estão inadvertidamente contribuindo para essa ansiedade por meio de expectativas irracionais? Como podemos mudar a maneira como nos relacionamos com os filhos para que eles tenham uma chance melhor de se tornarem adultos felizes? Também me pergunto se há outras maneiras de ajudá-los a prepará-los para lidar com as pressões do crescimento no mundo de hoje, e se existem verdades fundamentais que devemos ensiná-las.
É assim que acho que os pais podem ajudar:
1 – Definir limites
Os pais podem ficar tão motivados para o sucesso dos filhos que, inadvertidamente, destroem a felicidade deles. Desejamos que eles tenham sucesso onde falhamos e que eles evitem nossos erros. Mas, ao comunicar esse desejo, fazemos parecer que o valor de nossos filhos está ligado ao sucesso deles. A mensagem que eles retiram disso é que, se atenderem às nossas expectativas, nós os amaremos. Mas, de fato, os pais precisam estabelecer limites saudáveis e não pressionar os filhos além do razoável. Também podemos enfatizar que as avaliações comparativas de autoestima – digamos entre eles e seus colegas de classe – estão fora dos limites de uma autoestima saudável. Como parte desse esforço, limitar a mídia social é útil.
2 – Valorizar o caráter
As pessoas devem ser valorizadas pelo seu caráter. Cada um de nós pode se orgulhar se for capaz de viver uma vida correta, modesta, boa e cercada por pessoas que amamos. Para muitos, porém, parece que as conquistas são muito mais importantes do que o caráter, seja nos estudos, na popularidade na escola, em muitas atividades extracurriculares e em ser bom nos esportes. Como pais, podemos mostrar aos nossos filhos que esses sucessos serão irrelevantes se o exterior não combinar com o interior. Uma pessoa de sucesso é um homem ou mulher de caráter.
3 – Não traçar expectativas inalcançáveis
Precisamos informar as crianças, de forma clara e simples, que elas não precisam ser as melhores em tudo. Na verdade, elas deveriam se acostumar com a ideia de que não podem ser o orador da turma, o atleta estrela, a personagem principal da peça da escola e a rainha do baile ao mesmo tempo. Os pequenos só precisam ser eles mesmos – bons em algumas coisas e não tão bons em outras. Ajuda se os pais puderem passar mais tempo com seus filhos simplesmente brincando. Dessa forma, os filhos percebem intuitivamente que seus pais não os estão vendo como um projeto a ser aperfeiçoado, mas sim como uma pessoa a ser amada.
4 – Incentivar a formação espiritual
Enquanto crescia, meus pais me garantiram repetidamente que existe um Deus que me criou e me ama, não importa o que aconteça. Sabendo disso, fui libertado para ser eu mesmo. Eu sabia que era valorizado, então não havia ansiedade quanto ao rumo que minha vida poderia tomar. Pude enfrentar o sucesso e o fracasso com calma. Na verdade, foi essa verdade básica e fundamental que me salvou durante os anos difíceis da depressão. Eu sempre soube que, não importa o quão mal eu me sentisse, não duraria para sempre. Eu me pergunto como minha vida teria sido se eu não tivesse aquela perspectiva divina para me tirar da minha ansiedade.
As crianças precisam saber, de fato, como viver e por que viver. Ou, se você é católico, pode dizer que o objetivo da vida é se tornar um santo. Os pais ajudam imensamente seus filhos simplesmente levando-os à igreja e orando com eles. A ansiedade se instala quando a esperança diminui. Quem se relaciona com Deus sempre tem esperança.
Enfim, lidar com a ansiedade é uma tarefa complicada. Não há solução rápida. Mas sabemos que definir limites e expectativas razoáveis ajuda. Também ajuda ter uma forte vida interior e espiritualidade. A ansiedade acontece quando perdemos de vista quem somos e para onde estamos indo. Então sempre volto à verdade básica que me ajudou a voltar quando eu lutava com ela: somos valorizados exatamente por aquilo que realmente somos!
Fonte: Aleteia