
A Divina Providência assinala a cada um o caminho em que melhor pode realizar a sua vida e assim alcançar a meta da salvação. Repensando as vidas dos Santos, notamos que a maior parte dos homens tiverem uma missão mais exterior: missionários, fundadores, bispos e papas, escritores, mártires... Das Santas não se pode afirmar o mesmo. A maior parte delas levaram uma vida mais escondida, entregue à oração e penitência, e alcançaram a meta da perfeição mediante o apostolado da imolação, exercido duma maneira ou de outra. Um caso bem conhecido e muito famoso é o da Santa de hoje, Ludovina.
Nasceu cerca de 1380, numa vila não distante de Haia - Holanda -chamada Schiedarit Seu pai era guarda-noturno da terra. Era uma família normal, sem chamar a atenção nem pelo apelido nem pelo dinheiro ou qualquer outra qualidade. Apesar disso, o Senhor tinha predestinado a nossa menina para tornar famosa aquela família. Não era nenhum prodígio, mas em breve começaria a chamar a atenção por ser muito recolhida e entregue à oração, solidão e mortificação, mais do que costumavam fazer as outras meninas da sua idade. Logo lhe apareceram pretendentes, mas rejeitou-os como fruto do voto de virgindade que tinha feito já há algum tempo. A hora de Deus esperava-a numa festa da Virgem Maria. Era o dia 2 de Fevereiro, festa da Apresentação do Senhor e da Purificação da Virgem Maria, quando umas amigas a convidaram a ir patinar com elas sobre a neve. Para lhes agradar, aceitou. Mas caiu e fez uma chaga terrível no peito, que nunca mais a largou. Pior ainda, foi origem de outros males que a apoquentaram toda a vida.
É quase impossível como o corpo humano pode resistir a tantas e tão cruéis enfermidades, como as que a partir desta data se abateram sobre o corpo de Ludovina. Nos Anais das Vidas dos Santos, ela aparecerá sempre como o protótipo da enfermidade, mas uma enfermidade suportada com alegria e com grande paz, como meio de purificação de si mesma e dos homens seus irmãos. Ludovina procurava ter sempre presente o Senhor na sua Paixão e Morte, e isto dava-lhe forças e alento para suportar todas as dificuldades e dores que lhe sobrevinham.
Aos atrozes sofrimentos físicos vieram juntar-se os morais, já que passou por terríveis tentações de falta de fé, de medo de se condenar, de noites escuras do seu espírito. E isto não apenas durante um ano ou dois, mas durante quarenta anos em que suportou dores de toda a espécie, que todos diziam no ser possível suportar sem o auxílio da Divina Graça.
À humilde casinha da filha do guarda-noturno de Schiedam chegaram notícias nada lisonjeiras sobre o estado da Igreja. Nunca sofreu tanto, já que a Igreja esteve no seu tempo dividida em duas e três obediências, com dois e três papas ao mesmo tempo. Por ela, pela Igreja, pelo Papa e pelos Bispos e Príncipes cristãos oferecia generosamente as suas dores. Ao vê-la sofrer tão horrendos padecimentos, havia as opiniões mais diversas: uns tinham-na como santa e acorriam à sua poderosa intercessão, pois fazia muitos milagres; outros consideravam-na histérica e até louca e possessa do demônio. Ela escutava sem replicar e oferecendo ao Senhor tudo o que acontecia.
Ludovina sabia que a sua dor, unida à de Cristo, tinha valor redentor. No Museu de Arte de Viena há um formoso quadro intitulado: "Jesus na Cruz". O autor é um pintor flamengo, Drueghel o Velho. Surpreende o título, pois o que o quadro representa é um ramalhete de folhas. Cada folha é um medalhão, onde se mostra uma dor humana. AÍ estão todas as dores humanas. Num dos medalhões está Jesus na Cruz. Este medalhão dá sentido a todos. Toda a dor unida à Cruz, tem valor redentor. Ludovina partiu a unir-se ao Divino Crucificado no ano de 1432.