Quando rezamos, nos alegramos de se encontrar com o Senhor. E para que este encontro seja repleto de alegria, não podemos esquecer de pronunciar estas simples palavras: “Senhor, nos perdoa!”
Estamos tão longe de Deus, quando Ele está tão perto! Afirmamos a sua presença, a sua fidelidade, a sua proximidade, e estamos certos. Mas, ao mesmo tempo, temos de reconhecer a distância que nos separa dele. A distância é infinita, mas é dupla. Primeiro há uma distância ontológica: a nossa condição de criaturas. O Papa Bento XVI ensinou aos jovens alemães, em Colônia, as duas palavras que expressam adoração. Em latim, adoratio evoca o envio de um beijo, que o Santo Padre não hesitou em entender como um gesto de comunhão. Em grego, por outro lado, proskynésis evoca a prostração: o homem se reconhece como pequeno diante do Infinito. Moisés teve que tirar as sandálias antes da sarça ardente (Ex 3,5), Isaías teve que ter seus lábios purificados pelo fogo (Is 6,5-7), o apóstolo Paulo caiu “de joelhos” diante do Mistério (Ef 3,14). Porque é que passou a ser tão difícil e tão raro rezar de joelhos, ou genuflectir (às vezes substituída por uma inclinação imprecisa, reprodução pálida das metanias ortodoxas ou das saudações orientais)? Seremos tão prisioneiros da cultura do homem que se fez a si mesmo, aquele que não deve nada a ninguém? Ou de um laicismo ambiente que apaga todos os sinais de transcendência?
Quando o nosso pecado nos leva longe de Deus
O relacionamento com Deus é tanto intimidade como alteridade. Os dois não se contradizem. Pelo contrário, eles se reforçam mutuamente. Isto é o que é esmagador, primeiro para Maria e depois para nós: o Altíssimo se curva até o mais baixo – “a humildade do seu servo”, diz ela.
Uma segunda separação aprofunda ainda mais a primeira, e se torna um abismo: é o nosso pecado. Fechamento do coração, separação voluntária. Recordamos a reação de Pedro no momento da pesca milagrosa: “Retira-te de mim, Senhor, porque sou um homem pecador” (Lc 5,8). Mais uma vez, não sejamos demasiado rápidos a dizer que a misericórdia cobre a distância. É verdade, mas ao mesmo tempo a enfatiza: o pecado é intolerável, precisamente porque fere o amor puro, a misericórdia infinita. Que injustiça! Também aqui, a justiça e a misericórdia não se contradizem, elas se confirmam mutuamente. Além disso, já reparou esta obviedade perturbadora? Na história da Igreja, quem foram os que choraram dolorosamente pelos seus pecados, quem foram os mais horrorizados pela mínima infidelidade? Resposta: os santos!
Cada noite, peçamos o perdão do Senhor
Não podemos entrar na presença de Deus sem passarmos por uma purificação, um purgatório, a partir desta vida. Nada morno, na verdade, pode entrar na sarça ardente do Amor. A verdade do nosso relacionamento com Deus, e portanto a autenticidade da nossa oração, está em jogo. Porque somos nós, nós exclamamos: “Kyrie eleison!”. Porque é Ele, nós exclamamos: “Gloria in excelsis!”. Estas são as duas “notas” que abrem a liturgia dominical (algumas pessoas eliminam uma ou a outra, e destroem sem sequer se aperceberem todo um equilíbrio espiritual). Cuidado! Ao contrário do que se costuma pensar, não há nada de amargo na confissão de pecado por parte do cristão. Não é triste! Ou seja, se há uma tristeza de pecado, são essas lágrimas que serão consoladas, quando as lágrimas de arrependimento se tornarem lágrimas de felicidade. Esta é de facto a maravilha do Amor Misericordioso: a ferida que lhe infligimos é a mesma que nos cura.
Cada noite, portanto, é bom lembrar as maravilhas que iluminaram o dia (Aleluia!), e depois tomar um momento para reconhecer as infidelidades, pequenas ou grandes, que a escureceram (Perdão, Senhor!). Você vai ver, é um caminho de conversão. E na sua próxima confissão você terá algo para dizer!
Padre Alain Bandelier
Fonte: Aleteia