São Pedro o Venerável nasceu no seio de uma família condal de Alvérnia, França. Possuía qualidades excepcionais: porte aristocrático, olhar doce, andar gracioso, voz persuasiva, virtude atraente, palavra elegante, cultura universal.
Aos 28 anos de idade, foi eleito abade de Cluny.
Um poeta celebrava assim a sua inesperada eleição; "Alegrai-vos, monges de São Bento. Ninguém se lhe pode comparar. Em prosa, é um novo Cícero. Em verso, outro Virgílio. Discute como Sócrates. Discorre como Agostinho. Nem Gregório Magno nem Ambrósio têm que lhe ensinar nada em eloquência. Músico, astrólogo, geômetra, orador, dialético, nenhum conhecimento lhe é estranho".
Os primeiros tempos do seu governo como abade foram difíceis. O seu antecessor tinha abdicado da abadia para se alistar nas Cruzadas. Agora voltava com monges vagabundos para a recuperar. Criou grandes dificuldades, mas acabou por morrer sem conseguir os seus intentos.
Cluny, a grande abadia da Borgonha não só influía no milhar de outras abadias dela nascidas, mas até em toda a cristandade. Como nos séculos anteriores, quando o papado era disputado por famílias rivais romanas, Cluny continuava a ser um farol de luz naqueles séculos obscuros. Agora, em pleno século XII, começava a sua decadência. Somente Pedro o Venerável foi capaz de suster a queda.
Aparece então a Ordem de Cister sob a bandeira de Bernardo de Claraval. Os cistercienses professam a Regra de São Bento, mas querem voltar às origens, cumprir a Regra sem abrandamentos. Trava-se uma luta entre Bernardo e Pedro. Bernardo é mais violento. Acusa-os de relaxamento, de acumulação de riquezas, de luxo excessivo na mesa e no culto. Chama-os "cidadãos de Babilónia, filhos dignos da geena".
Pedro queixa-se de tão violentas acusações, com palavras amáveis. "A caridade, diz-lhes, é a alma da Regra. Se pecais contra a caridade, deixais o bom caminho, mesmo que observeis bem a Regra". Contudo, Pedro e Bernardo amaram-se como amigos e homens de Deus. Mantiveram uma correspondência epistolar exemplar. Viveram reconciliados.
Pedro não falava apenas de caridade. Lutou também pela reforma de Cluny e de todos os mosteiros cluniacenses, e restaurou a disciplina. A sua voz era esperada e escutada. Defendeu o papa legítimo, lnocêncio II. Empreendeu uma campanha para evangelizar os muçulmanos espanhóis.
Mantinha correspondência frequente com papas, bispos e reis. Nela aparece a sua alma nobre, o seu grande coração, o seu espírito equilibrado, que sempre buscava a concórdia e sempre aconselhava o que era melhor.
Abelardo, o sábio filósofo, andava errante e desesperado, depois das suas relações com Eloísa e suas tristes consequências. Não encontrava repouso. Pedro o Venerável escreve-lhe, convida-o e acolhe-o como um pai em Cluny Convoca Bernardo e consegue a reconciliação entre ambos. Quando Abelardo morre, soube comunicá-lo a Eloísa, abadessa num convento próximo, e transmite-lhe paz e serenidade. Pedro, o reconciliador; Pedro o transfigurado. Foi ele que introduziu na liturgia a festa da Transfiguração.
Na Grande Cartuxa, tinha ele pedido orações para que Deus lhe concedesse graça de morrer em dia de Natal. A24 de Dezembro de 1157 assistiu com os monges ao "capítulo", sem qualquer sinal de doença. Falou-lhes da chegada do Redentor, ao mesmo tempo que derramava copiosas lágrimas. Repentinamente, sentiu-se doente. Levaram-no para a cela e velaram-no todo o dia. Naquela noite, à hora em que Cristo nascia, Pedro o Venerável deixava este mundo e voava para o paraíso, para celebrar o Natal com os Anjos.

