É uma verdade muito grande o conhecido ditado, "que o santo não nasce, faz-se". Pedro Canísio não sentia em si essa inclinação para a bondade nem para essas outras maravilhas que só costumamos encontrar nas biografias dos Santos antigos que se julga terem gozado desde o berço de graças extraordinárias. Não. Pedro Canísio será um rapaz normal. Dizem os seus biógrafos que era dotado duma natureza um tanto ou quanto rara. Era, dizem, irritadiço, tendencioso, impertinente, vaidoso, orgulhoso e bastante teimoso... Mesmo quando for mais velho, de vez em quando,,.aparecerá o seu gênio forte e altaneiro. Mas por outro lado, também tinha boas qualidades que o inclinavam para a bondade e perdão e para uma acrisolada piedade. Naquele coração de Pedro Canísio cabia tudo...
Foi a 8 de Maio de 1521, no mesmo ano em que Lutero rompe com Roma, que Pedro nasce na bela cidade de Nimega, Holanda. Seu pai desempenhava o cargo mais importante da cidade: era burgomestre. Tanto o pai como a mãe, que eram bons cristãos, trataram de lhe dar uma esmerada eduçação. A mãe, de nome Egídia, conta o próprio São Pedro Canísio no seu precioso livro "Confissões", antes de morrer, reuniu os filhos e deu-lhes como testamento espiritual o seguinte:
"Meus filhos, quero que depois da minha morte, sempre ameis muito e sejais fiéis à Igreja Católica. Sede filhos muito fiéis do Papa de Roma."
Pelo ano de 1542, quando tinha 22 anos, enquanto estudava na cidade de Mogúncia, encontrou-se com o célebre jesuíta Pedro Fabro e logo viram que eram almas gêmeas, tendo travado grande amizade. Fabro convidou-o a tomar parte nuns Exercícios Espirituais que se iam realizar naquela cidade. Canísio saiu deles totalmente transformado, ao ponto de dizer: "Amigo Fabro, vejo que o Senhor me chama a ingressar na Companhia. Quero ser santo e para isso o Senhor me assinalou este caminho". Ingressa então na Companhia e começa uma nova etapa para ele.
Entrega-se em cheio à sua formação espiritual e científica. Progride rápido em ambos os caminhos. Admiram as suas qualidades. Ele diz cheio de gratidão: "Que teria sido de mim, pobre pecador, se a Divina Providência me não tivesse enviado estes homens providenciais que me ajudaram a caminhar pelo bem e a evitar os perigos que me rodeavam?"
Graduou-se em Filosofia e teologia e foi professor muito distinto de Sagrada Escritura. Ordenou-se sacerdote no ano de 1646.
Santo lnácio de Loyola sentia uma predileção especial por Pedro Canísio, por ser o primeiro sacerdote jesuíta holandês. Os males da heresia espalhada por Lutero propagam-se cada vezma4s. Há que pôr cobro a tanto mal. Por isso, Inácio envia Pedro Canísio para a sua pátria, para aí pregar a palavra de Deus e ajudar os seus irmãos na fé e na defesa da Igreja Católica contra os furiosos ataques dos protestantes.
Canísio prega, escreve livros, funda conventos, não tem descanso nem de noite nem de dia. Discute publicamente com os detratores da fé católica e deixa-os envergonhados com os seus argumentos e com a sua arrebatadora eloquência. Para zombar dele, inventam piadas com o seu nome de família: Canis que, em latim, significa cão. Mas ele não se importa. Interessa-se sobretudo com o trabalho com a juventude, os futuros homens de amanhã. Funda Colégios e acarinha-os. É eleito superior provincial e trabalha por estender a Companhia. Torna-se um grande mestre de catequistas. Escreve um famoso Catecismo que ainda hoje é de valor insubstituível. Chega a ser Núncio do Papa. E um homem prático. É este o título que lhe é atribuído: Doutor Praticus.
Morre em Friburgo a 21 de Dezembro de 1597.
Oração de São Pedro Canísio
À vossa tutela me recomendo, ó santo Pedro Canísio, pois à vossa guarda me confiou a divina bondade.
Sou cego, guia-me; sou ignorante, instrui-me, sou fraco, confortai-me; sou pequenino, protegei-me; sou preguiçoso, estimulai-me; sou tardo, estimulai-me a progredir no bem. Sobretudo, fazei que aquela extrema e perigosa luta que eu terei que sustentar com os demônios em minha morte, tenha termo feliz, para que, passando a ser companheiro vosso no céu, possa cantar alegremente o trino da vitória: - "Rompeu-se o laço e livres dali nós fomos".