O arcebispo da cidade paranaense de Maringá, dom Anuar Battisti, escreveu em seu mais recente artigo sobre a Campanha da Fraternidade (CF) deste ano e o tempo da Quaresma. Em sua reflexão, ele afirma que a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) todos os anos faz coincidir a CF com a Quaresma, unindo assim a necessidade de conversão e a conscientização de uma situação social urgente da sociedade.
Para o prelado, a Campanha da Fraternidade sempre é uma reflexão, um roteiro de conscientização, prevenção, denúncia, reinserção social e incidência política para alertar a população. Ele salienta que este ano é o enfrentamento do tráfico humano, com o tema: “Fraternidade e Tráfico Humano” e lema: “É para a Liberdade que Cristo nos libertou”, inspirado na carta aos Gálatas (5, 1).
Dom Anuar explica que o objetivo geral da campanha é identificar as práticas de tráfico humano em suas várias formas e denunciá-lo como violação da dignidade e da liberdade humana, mobilizando cristãos e a sociedade brasileira para erradicar esse mal, com vista ao resgate da vida dos filhos e filhas de Deus.
Segundo o arcebispo, o tráfico humano caracteriza-se pela ampla estrutura do crime organizado, em rotas nacionais e internacionais e internacionais, pela invisibilidade ajudada pela falta de denúncia e pelo aliciamento e a coação. Ele explica que suas principais modalidades são: tráfico para exploração no trabalho, para exploração sexual, para extração de órgãos, para adoção de crianças, para exploração da força de trabalho, para atividade ilícita.
“O enfrentamento do crime do tráfico humano exige a cooperação entre os países, em áreas como a criminal, jurídica, tecnológica, econômica e de meios de comunicação”, completa.
Outra questão analisada pelo prelado é que o Brasil adotou a “Convenção de Palermo” das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional, o qual foi assinado um Protocolo Adicional conhecido como “Protocolo de Palermo”. Conforme ele, esse instrumento legal internacional, o principal para prevenção, repressão e punição do tráfico humano, define o crime e aponta os elementos que caracterizam: os atos mais comuns – o recrutamento; o transporte; a transferência; o alojamento; o acolhimento de pessoas.
De acordo com dom Anuar, a principal finalidade do tráfico humano é a exploração da pessoa sob várias formas: prostituição e outras formas de exploração sexual; a servidão; a remoção de órgãos. Ele também frisa que, para a configuração do crime de tráfico humano, o consentimento da vítima é irrelevante. Para o arcebispo, os traficados devem ser vistos como vítima e são protegidos pela lei brasileira; mas, ainda faltam leis mais abrangentes quanto ao crime de tráfico de pessoas.
“A Igreja é solidária com as pessoas traficadas e comprometidas com a evolução da consciência sobre o valor da dignidade humana, fundamentada na Sagrada Escritura. A ruptura dessas relações leva ao pecado da violência, da exploração do outro, agressões à dignidade humana como o tráfico de pessoas”, destaca.
Por fim, dom Anuar enfatiza que “é para a liberdade que Cristo nos libertou” (Gl 5, 1) é uma liberdade para o serviço (Rm 6, 22) e para o compromisso com a justiça do Reino (Rm 6, 16). Segundo ele, a justiça e a liberdade verdadeira nos impele a vencer a idolatria do dinheiro, da ideologia e a tecnologia que se encontra na origem do pecado do tráfico humano, onde o ter se sobrepõe ao ser.
“O tráfico humano não é só uma questão social, mas também eclesial e desafio pastoral. A Igreja é desafiada a ser advogada da justiça e a defensora dos pobres. Os três caminhos de ação que desponta são: prevenção, cuidado pastoral das vítimas e a sua proteção e reintegração na sociedade. A Igreja é provocada a dar uma resposta de amor, por meio de todos nós discípulos missionários, defendendo sempre a dignidade dos pequeninos e injustiçados”, conclui.
Fonte: Gaudium Press