O tempo – seja de transição, de dificuldades ou de estabilidade – é nosso tempo, nosso único tempo.
“Como é insensato o homem que deixa transcorrer esterilmente o tempo.”
A frase acima é de Goethe. Mas o que significa o tempo em nossa vida? O que significa quando dizemos que Deus faz todas as coisas ao seu tempo?
É difícil explicar. Viver dentro do tempo nos limita, nos prova, nos faz tomar decisões. Parece que o homem não pode interferir em sua engrenagem. Ele – o tempo – tem seu ritmo e nos impõe repetições: nascer, morrer, amar, odiar, sofrer, gozar, unir, separar, calar, falar, salvar, destruir…
Os seres humanos, com todos os seus desejos, são subordinados ao tempo. Às vezes, ele é como um tirano que nos obriga a decidir, e não permite que voltemos atrás. Outras vezes, passa muito rapidamente e nos arrasta. Ou vai muito lentamente e nada acontece…
Frequentemente, o tempo nos surpreende, nos move, nos educa na paciência. Se ele dá frutos, agradecemos pelo que vivemos. Mas se ele demora, é difícil de ser compreendido e se torna insuportável.
Por isso, é indispensável esperar com paciência os tempos de nossa vida. É preciso aceitá-los, abraçá-los. Entender que “todas as coisas importantes florescem muito devagar, levam anos e é preciso aceitar longos invernos de aparente imobilidade e estancamento. Mas um dia – não sabemos quando – todo o amor termina por germinar e florescer”, como diz Martín Descalzo.
A verdade é que, com o passar do tempo, cheguei à conclusão que todos os tempos são igualmente importantes e precisam ser vividos com total consciência e paz.
Talvez algumas vezes não possamos evitar suas imposições. Quiçá as nossas decisões tenham nos levado a nos submetermos a ele. Mas de uma coisa estou certa: o tempo – seja de transição, de obscuridade ou de estabilidade – é o nosso tempo, nosso único tempo, e, no final das contas, este é também o tempo de Deus, tempo de salvação, tempo que precisa ser tempo para depois ser eternidade.
Se compreendermos isso, viveremos com serenidade cada passo, cada processo, cada ciclo. E perceberemos que, para Deus “aquilo que é já existia, e aquilo que há de ser já existiu; Deus chama de novo o que passou” (Eclesiastes 3,15).
E mais:
“Para tudo há um tempo, para cada coisa há um momento debaixo do céu: tempo de nascer e tempo de morrer; tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou. Tempo de matar e tempo de curar; tempo de demolir e tempo de construir. Tempo de chorar e tempo de rir; tempo de gemer e tempo de dançar. Tempo de atirar pedras e tempo de ajuntá-las; tempo de abraçar e tempo de apartar-se. Tempo de procurar e tempo de perder; tempo de guardar e tempo de jogar fora. Tempo de rasgar e tempo de costurar; tempo de calar e tempo de falar. Tempo de amar e tempo de odiar; tempo de guerra e tempo de paz. Que proveito tira o trabalhador de sua obra? Vi o trabalho que Deus impôs aos homens, para que nele se ocupassem. As coisas que Deus fez são boas a seu tempo. Ele pôs, além disso, no seu coração, a duração inteira, sem que ninguém possa compreender a obra divina de um extremo ao outro” (Eclesiastes 3,1-11).