Há séculos, a Igreja apoia e promove a busca das melhores medidas disponíveis para o combate de doenças
A Igreja Católica vem mostrando apoio às melhoras alternativas em relação ao combate de doenças há muitos anos.
Desde bem antes da eclosão de desastres monumentais como a famigerada Peste Negra, na Alta Idade Média, os mosteiros católicos já eram reconhecidos como importantes centros de estudos, experimentos e produção de remédios a partir de ervas, raízes e folhas. Até mesmo obras literárias ferrenhamente críticas à Igreja, como o romance “O Nome da Rosa“, de Umberco Eco, registram essa prática.
Os Papas e as campanhas de vacinação
Sabendo-se disso, o empenho do Papa Francisco em favorecer amplo acesso às vacinas na atualidade não representa novidade na história da Igreja: é a continuação do compromisso católico com as obras de misericórdia, tanto espirituais quanto corporais.
No caso específico das vacinas, o Vatican News publicou recentemente uma reportagem sobre a campanha de imunização contra a varíola no começo do século XIX. De fato, em 1822, o cientista considerado “pai” dessa vacina, Edward Jenner, ainda estava vivo quando o Estado Pontifício, governado então pelo Papa Pio VII, impulsionou essa campanha maciçamente mediante um decreto assinado pelo cardeal Ercole Consalvi, que era o Secretário de Estado.
A epidemia de varíola era alarmante na Europa. O pico na Itália central ocorreu em 1820, mas a epidemia se prolongou durante muitos meses ainda. Foi nesse contexto que o Papa Pio VII ordenou a inoculação da vacina contra esse doença em todo o território do Estado Pontifício.
A imunização, aliás, é descrita no decreto papal como “um método tão simples quanto eficaz para conter a força venenosa da doença”.
“Meio enérgico da Providência Divina”
O texto pontifício de 200 anos atrás também define a vacina como “um meio enérgico dado pela Providência Divina como disposição ao Amor Paterno para salvar a prole no alvorecer da vida e na certeza das esperanças da família e da pátria”.
É muito significativo registrar que, já então, havia temores e desinformações que levavam muitos a rejeitar a imunização: “um preconceito profundamente arraigado era mais forte em alguns pais do que o amor por sua prole”.
As comissões pontifícias de vacinação
O Papa Pio VII determinou também a criação de uma Comissão Central de Vacinação “para a propagação da inoculação de vacinas em toda a extensão dos Estados papais”.
A pasta deveria supervisionar os trabalhos “para a correta execução da inoculação de vacinas”, respeitando-se as normas para “conservação constante de um depósito do vírus da vacina tanto em Roma quanto em todas as Comissões provinciais do Estado”.
Havia ainda um Conselho de Vacinação consultivo, formado por professores da Faculdade de Medicina das Universidades de Roma e Bolonha.
Além disso, havia comissões provinciais de vacinação, dependentes da Comissão Central, mas com poderes administrativos para garantir a disponibilidade de vacinas e sua distribuição gratuita.
As crianças foram um dos públicos prioritários: o decreto previa inclusive uma ação de vacinação específica para os orfanatos.
A importância da vacinação era tão fortemente reconhecida que, para os médicos que desejassem atuar nos Estados Pontifícios, era obrigatório comprovar que sabiam vacinar de acordo com o método de Jenner. Sem esse requisito, o Estado Pontifício não concedia o certificado aos médicos.
Os medos e preconceitos da população
O amplo programa de vacinação, porém, não conseguiu atingir os seus objetivos porque a população se mostrou muito resistente a superar seus medos e preconceitos.
Na década de 1830, o Papa Gregório XVI procurou dar novo impulso às campanhas de vacinação: em 1834, ele instituiu a Congregação Especial da Saúde.
Com a eleição de Pio IX (foto), prosseguiram os esforços para se atingir uma cobertura universal da vacina contra a varíola, cuja epidemia recrudescia. Na campanha de vacinação de 1848, o Papa ordenou foco especial nos setores mais pobres da população e envolveu as paróquias no registro de quem recebia a imunização.
Ele chegou a estabelecer até um pequeno prêmio em dinheiro para quem se vacinasse e retornasse na semana seguinte para uma nova consulta gratuita com os médicos. O objetivo desta medida era monitorar o sucesso da vacinação.
Fonte: Aleteia e Vatican News