Durante o lockdown em 2020, embaixadoras da Santa Sé, residentes em Roma, estabeleceram uma rede informal de entrevistas on-line e laços que vão além do simples contato profissional
Tudo começou com um grupo WhatsApp. No duro lockdown italiano a partir de março de 2020, a embaixadora britânica junto à Santa Sé, Sally Axworthy, e sua colega canadense, Isabelle Savard, sentiram a necessidade de se comunicar de tempos em tempos, de modo informal, com as outras representantes diplomáticas junto à Santa Sé – são cerca de 20.
Logo nasceu a ideia de convidar pessoas especializadas na área para as discussões via Zoom, e os temas alternavam entre Igreja, política e assuntos do Vaticano. Entre outras coisas, as embaixadoras estavam interessados na resposta da Santa Sé à Covid-19, no papel dos leigos na Igreja e nas tarefas e perspectivas das mulheres que trabalham no Vaticano.
Uma rede informal de ideias
A rede de mulheres embaixadoras é explicitamente informal; não tem estatutos ou listas de inscritos, nenhuma orientação política e fazer acordos políticos não é um de seus objetivos. Mas as mulheres neste campo são enriquecidas pela troca de ideias umas com as outras.
“Muitas coisas nascem porque são vistas como boas, e depois evoluem”, disse uma embaixadora. Um grupo aberto, disse, para uma forma aberta de troca de ideias. As que tinham tempo participavam das reuniões na plataforma Zoom com o convidado e se uniam à discussão. As próprias diplomatas sugeriam às colegas possíveis convidados – muitas vezes convidadas.
Assim, aconteceu que numa recente recepção de despedida do grupo de embaixadoras em Roma, em um total de 30 pessoas, apenas 3 eram homens, uma inversão do equilíbrio de gênero que geralmente está presente nas recepções das embaixadas junto à Santa Sé.
De Uganda, a primeira embaixadora em 1975
No entanto, há muito tempo as mulheres estão representadas no corpo diplomático que vem e vai junto ao Vaticano. A primeira embaixadora junto à Santa Sé foi uma mulher africana, como o departamento de protocolo da Secretaria de Estado confirmou ao Vatican News.
Em 23 de janeiro de 1975 a Santa Sé credenciou a Sra. Bernadette Olowo como embaixadora de Uganda. Depois disso, primeiro alguns, depois cada vez mais países enviaram diplomatas mulheres ao Vaticano, sendo que as da África constituem uma constante.
Um aumento constante
Em 1980, de acordo com o Anuário Pontifício, somente a Zâmbia tinha uma embaixadora credenciada junto à Santa Sé.
Em 1990 havia cinco mulheres com Costa Rica, Gana, Jamaica, Nova Zelândia e Uganda. No Ano Santo de 2000, o número de embaixadoras no Vaticano tinha aumentado para oito (Filipinas, Lesoto, Nicarágua, Panamá, Paraguai, EUA, África do Sul, Ucrânia).
Em 2010 foram 16 (Bósnia-Herzegovina, Burundi, Filipinas, Gâmbia, Geórgia, Jordânia, Índia, Islândia, Holanda, Paquistão, Panamá, Polônia, Suriname, Suécia, Tunísia, Ucrânia).
Por fim, em 2021, conta-se 26 embaixadoras – em um total de 135 representantes – credenciadas junto à Santa Sé, das quais 16 são residentes, e outras duas diplomatas são delegadas de organismos internacionais.
O futuro do grupo
Três das atuais diplomatas que fazem parte do grupo deixarão seus postos são Isabelle Savard do Canadá, Sally Axworthy do Reino Unido, e María Elvira Velásquez Rivas-Plata do Peru.
Todavia, a rede informal de embaixadoras continuará a existir e – se as circunstâncias pós-Covid permitirem – será ainda mais fortalecida a partir de setembro com encontros em espaço físico e não apenas virtual.
Fonte: Vatican News