O patriarca latino de Jerusalém, Pierbattista Pizzaballa, pediu aos católicos do mundo inteiro que rezem pela “paz e justiça” na Terra Santa enquanto a violência ocorrer.
“É importante que toda a Igreja se una à Igreja mãe de Jerusalém na oração de intercessão pela paz e pela justiça na Terra Santa”, disse Pizzaballa ao grupo ACI hoje, dia 18 de maio.
“Todo cristão em qualquer parte do mundo nasce espiritualmente aqui, porque nossa fé está enraizada aqui, nesta Terra. Por essa razão, o sofrimento na Terra Santa é doloroso em toda a Igreja. Todos juntos, portanto, como um só corpo, devemos nos comprometer a elevar nossa oração ao Senhor, nosso Pai, por todos os Seus filhos da Terra Santa”.
O líder da Igreja de 56 anos, nomeado patriarca latino em outubro, acha que se trata apenas da mais recente erupção de um ciclo de violência. “Infelizmente, esta não é a primeira vez e temo que não seja a última em que teremos que lidar com estas explosões de violência e guerra na Terra Santa”, comentou.
“Estas explosões de violência só deixarão mais escombros, mortes, animosidades e sentimentos de ódio, não trarão solução. Veremos acusações mútuas sobre o uso do poder, provavelmente haverá recorço aos tribunais internacionais, com acusações mútuas, mas no final, tudo ficará como antes, até a próxima crise”.
“Até que decidamos realmente enfrentar os problemas que têm afligido esses países e esses povos durante décadas, na verdade, temo que seremos obrigados a testemunhar mais violência e outros sofrimentos”, disse Pizzaballa. Apesar do termo usado pelo patriarca, a Autoridade Palestina, que administra os territórios palestinos de Gaza e de partes da Cisjordânia, não é um país.
A atual crise começou em 6 de maio com protestos palestinos contra uma decisão a ser tomada pela Suprema Corte de Israel sobre o despejo de seis famílias palestinas do bairro Sheikh Jarrah, em Jerusalém Oriental. Os protestos levaram a confrontos com a polícia israelense.
O Hamas, rupo radical muçulmano que controla Gaza, então disparou foguetes contra Israel, provocando ataques por parte das Forças de Defesa israelenses.
“Jerusalém é o coração do problema e desta vez foi a centelha que incendiou o país”, disse Pizzaballa. Para ele “a questão de Sheikh Jarrah, que foi apresentada como uma questão jurídica”, é “também evidentemente uma decisão política de expansão dos assentamentos israelenses em Jerusalém Oriental”.
“Esta crise, no entanto, indica que esta metodologia não funciona e que nenhuma solução pode ser imposta a Jerusalém. A solução só pode ser o resultado do diálogo entre israelenses e palestinos, que terão ambos que fazer própria a vocação aberta, multi-religiosa e multicultural da cidade”.
O líder dos católicos latinos em Israel, nos territórios palestinos, na Jordânia e no Chipre disse que este princípio se aplicava não apenas a Jerusalém, mas também à disputa mais ampla entre Israel e a Palestina.
Pizzaballa, um frade franciscano que serviu como administrador apostólico do Patriarcado Latino de 2016 a 202, considera que a mídia internacional não cobriu adequadamente outra fato “preocupante”: a violência entre judeus e árabes cidadãos de Israel.
“Testemunhamos violência, patrulhas organizadas, tentativas de linchamento de ambos os lados, judeus e árabes, uma explosão de ódio e rejeição do outro que provavelmente esteve fermentando por algum tempo e que agora emergiu violentamente e achou todos despreparados e assustados,” disse o patriarca.
Ele argumenta que os choques resultam de anos de “linguagem política violenta” que causou uma divisão cada vez mais profunda entre os dois povos.
“Levará muito tempo para reconstruir esses relacionamentos profundamente feridos. Teremos que trabalhar com os muitos povos, de todas as fés, que ainda acreditam em um futuro juntos e se comprometem com ele. São muitos, mas precisam de apoio, alguém que possa levar sua voz para o mundo inteiro,” disse Pizzaballa.
“Teremos que começar reconstruindo os relacionamentos entre todos nós tudo de novo, e, nesse sentido, será uma prioridade começar da dolorosa descoberta destes dias que é o ódio que se encontra, sobretudo, no coração dos jovens.”
“Não devemos cultivar ou permitir que sentimentos de ódio se desenvolvam. Devemos fazer com que ninguém, judeu ou árabe, se sinta rejeitado”.
Falando após seu discurso Regina Coeli no domingo, 16 de maio, o Papa Francisco apelou para o fim da violência.
“Nestes dias, violentos confrontos armados entre a Faixa de Gaza e Israel ganharam vantagem, arriscando-se a degenerar em uma espiral de morte e destruição”, disse ele.
“Muitas pessoas foram feridas e muitos inocentes morreram. Entre elas estão crianças, e isto é terrível e inaceitável”.
Em 17 de maio, o papa discutiu o conflito com o presidente turco Recep Tayyip Erdoğan e o ministro iraniano das Relações Exteriores Mohammad Javad Zarif.
Pizzaballa, que nasceu no norte da Itália, disse que os líderes de ambas comunidades precisariam ser mais claros na denúncia de ações divisórias.
“Não podemos seguir satisfeitos com as reuniões inter-religiosas de paz, pensando que com essas iniciativas resolvemos o problema da coexistência entre nós”, observou ele.
“Teremos realmente que nos comprometer para que em nossas escolas, em nossas instituições, na mídia, na política, nos lugares de culto, ressoe o nome de Deus, do irmão e do companheiro de vida”.
“Teremos que aprender a estar mais atentos à linguagem que usamos e tomar consciência de que a reconstrução de um modelo sério de relações entre nós exigirá muito tempo, paciência e coragem”.
“Precisaremos de uma nova aliança, entre pessoas de boa vontade que, independentemente da fé, identidade e visão política, sintam o outro como parte de si mesmas e desejem se comprometer a viver com esta consciência”.
Ele acrescentou que antes do surto de violência, os líderes mundiais pareciam ter “esquecido” a disputa entre Israel e Palestina. Ele pediu que esta seja colocada no topo da agenda internacional.
“A ferida só estava coberta, escondida, mas nunca foi curada”, disse.
“Convido-vos a rezar pela Igreja de Jerusalém, para que seja uma Igreja que vai além dos muros e das portas fechadas; que acredita, anuncia, constrói a paz, mas ‘não como o mundo a dá'”, disse o patriarca citando João 14, 27.
“A Igreja terá que construir a paz que é fruto do Espírito, que dá vida e confiança, sempre de novo, sem nunca se cansar”, concluiu.
Fonte: ACI Digital