Esta é uma pergunta feita com muita frequência por cristãos das mais diferentes confissões religiosas, e de um modo especial pelos católicos. A diferença entre as Bíblias não esta no conteúdo e sim no número dos livros no Antigo Testamento. Na Bíblia protestante se verifica a ausência de sete livros: Baruc, Tobias, Judite, 1.° e 2.° dos Macabeus, Sabedoria, Eclesiástico; e também trechos de Ester (10,4-16,24 em gc); Daniel (3,24-90; 13,1-14,42 em gc)).
O motivo desta diferença tem como origem as duas versões do Antigo Testamento dos judeus, no tempo dos primeiros cristãos. A primeira era com menos livros, usado pelos judeus da Palestina. A outra, adotada pelos judeus de Alexandria no Egito, escrita em grego, continha sete livros a mais, e estes eram considerados também sagrados. Esta era chamada de versão dos setenta.
No primeiro século da era cristã, surgem os primeiros escritos do Novo Testamento, apresentados como continuação e realização das promessas de Deus feitas aos judeus no Antigo Testamento. Esta pretensão cristã, provocou uma reação dos dirigentes judeus da Palestina. Por volta do ano 100 d.C, reunidos no Sínodo de Jâmnia, estabelecem as condições para reconhecer um livro bíblico como inspirado por Deus:
– O livro sagrado deveria ter sido escrito em Israel;
– não poderia ser escrito depois do livro de Esdras (5º século a.C)
– redigido e conservado somente em hebraico, não reconhecia os textos em aramaico ou em grego.
– não podiam contrair o conteúdo do Pentateuco ou a Lei de Moisés.
A aplicação destes critérios excluía o Eclesiástico e 1º e 2º de Macabeus, por serem posteriores a Esdras. Os livros da Sabedoria 2º Macabeus e os trechos de Ester foram excluídos por serem escritos em grego. Tobias e Judite, por serem pós Esdras e escritos em aramaico. Quanto à profecia de Baruc e fragmentos de Daniel, no início da era cristã só eram conservados em grego, por se haver perdido o texto original em hebraico.
Os primeiros cristãos espalhando-se por todo o mundo conhecido, necessitavam de uma versão do Antigo Testamento de fácil acesso a todos. A língua mais popular fora da Palestina era o grego. Por isso, o Antigo Testamento com mais livros passou a ser o texto usado pelos cristãos. Nos evangelhos e demais escritos do Novo Testamento fica evidente a influência da tradução grega do Antigo Testamento. Das 350 citações do Antigo Testamento, 300 são do texto dos setenta.
É importante entender dois pontos sobre esta questão da formação do catálogo dos livros sagrados da Bíblia:
– Os judeus da Palestina excluíram sete livros do Antigo Testamento, por critério nacionalista, como se Deus se limitasse a falar somente na Terra Santa. E também como reação aos cristãos por estarem usando a versão dos setenta.
– Os apóstolos, ao decidirem usar o Antigo Testamento com mais livros, agiram inspirados pelo
Espírito Santo, pois eles receberam a missão do próprio Jesus para anunciar o evangelho com fidelidade.
Para não existirem mais dúvidas em relação ao catálogo dos livros da Bíblia, em 393 d.C, o Concílio regional de Hipona (África), estabelece sendo 46 para o Antigo Testamento, e 27 para o Novo Testamento. No século XVI, Martinho Lutero, iniciador do protestantismo, decide adotar, para a versão da sua Bíblia em alemão, o texto usado pelos judeus da Palestina, com sete livros a menos. Esta passou a ser a Bíblia dos protestantes ou evangélicos.