Em sua habitual homilia da Missa que presidiu na manhã de ontem na capela da Casa Santa Marta, o Papa Francisco assegurou que sem oração abandona-se a fé, se cai na ideologia e no moralismo, e alertou que Jesus não está nestas coisas.
O Papa explicou que quando não há oração na vida “a fé passa, por assim dizê-lo, por um alambique e se converte em ideologia. E a ideologia não convoca. Nas ideologias não está Jesus: sua ternura, seu amor, sua docilidade. E as ideologias são sempre rígidas. Ideologias de todo tipo: rígidas. E quando um cristão passa a ser discípulo da ideologia é porque perdeu a fé: não é mais um discípulo de Jesus, é um discípulo desta atitude de pensamento”.
Por isso, explica o Papa lembrando o Evangelho de hoje no qual o Senhor fala com os mestres da lei, “Jesus lhes diz: ‘Vocês se levaram a chave da ciência’. O conhecimento de Jesus é transformado em um conhecimento ideológico e inclusive moralista, porque estes fechavam a porta com tantas prescrições”.
Sem a oração, assegurou o Santo Padre, “a fé transforma-se em ideologia e a ideologia assusta, a ideologia manda embora as pessoas, afasta, afasta as pessoas e afasta a Igreja da gente. Mas é uma doença grave esta dos cristãos ideológicos. É uma doença, mas não é nova, né? Já o Apóstolo João, na sua Primeira Carta, falava disto. Os cristãos que perdem a fé e preferem as ideologias.”.
A atitude destes cristãos, disse o Pontífice, é “tornarem-se rígidos, moralistas, mas sem bondade. A pergunta pode ser esta: Mas porque é que um cristão pode passar a ser assim? O que é que sucede no coração daquele cristão, daquele padre, daquele bispo, daquele Papa, para ficar assim? Simplesmente uma coisa: aquele cristão não reza. E se não há oração, tu sempre fechas a porta”.
“A chave que abre a porta da fé é a oração”. E advertiu: “quando um cristão não reza acontece isto. E o seu testemunho é um testemunho soberbo”. “O que não reza é soberbo, orgulhoso e seguro de si mesmo. Não é humilde. Busca a própria promoção”. Em contrapartida, afirmou, “quando um cristão reza não se afasta da fé, fala com Jesus”.
“Digo rezar, não digo dizer orações, porque estes doutores da lei diziam tantas orações” para que as pessoas vissem. Em troca, Jesus diz: “Quando orares, entra no teu quarto, fecha a porta e ora ao teu Pai em segredo”. “Uma coisa –disse o Papa– é rezar, e outra coisa é dizer orações”.
“Estes não rezam, abandonam a fé e a transformam em uma ideologia moralista, a casuística, sem Jesus. E quando um profeta ou um bom cristão os repreende, fazem o mesmo que fizeram com Jesus: ‘Quando saiu dali, os escribas e os fariseus começaram a acossá-lo, exigindo-lhe resposta sobre muitas coisas e fazendo-lhe armadilhas -são insidiosos- para surpreendê-lo em alguma afirmação’”.
Eles, prosseguiu Francisco, “não são transparentes. Pobrezinhos, são pessoas manchadas pela soberba. Peçamos ao Senhor a graça, primeiro: de não deixar de rezar, para não perder a fé: permanecer humildes, e assim não nos fecharemos, não fecharemos o caminho ao Senhor”.
O Papa se referiu logo ao fato comum de andar pela rua e encontrar uma igreja fechada. Quando isso acontece, disse, “sentimos algo estranho”, porque não se entende quando uma igreja está fechada. “Às vezes,” destacou, “nos dão explicações” que não são tais: “são pretextos, são justificativas, mas a realidade é que a igreja está fechada e as pessoas que passam não podem entrar”. E, pior ainda, “o Senhor que está dentro não pode sair”.
Hoje, adicionou o Pontífice, Jesus fala desta “imagem da clausura”, é “a imagem dos cristãos que têm a chave, mas a escondem, não abrem a porta”.
Pior ainda, ficam parados na porta e “não deixam entrar”, e ao fazê-lo, “nem sequer eles entram”. A “falta de testemunho cristão faz isto” e “quando esse cristão é um sacerdote, um bispo ou um Papa é pior”. Mas, perguntou-se Francisco, como é que um “cristão cai nesta atitude de chave no bolso e porta fechada?”.