O Papa Francisco recebeu em audiência, na Sala Clementina, no Vaticano, nesta quinta-feira (03/11), os representantes de diferentes religiões, dentre os quais cristãos, judeus, muçulmanos, budistas e hinduístas comprometidos nas obras caritativas. O encontro foi realizado no contexto do Ano Jubilar e teve como tema a misericórdia.
“Está para terminar o Ano Santo, durante o qual a Igreja Católica olhou intensamente para o coração da mensagem cristã na perspectiva da misericórdia que nos revela o nome de Deus. A misericórdia é a pedra angular que sustenta a vida da Igreja. É a chave para ter acesso ao mistério do ser humano que tanto precisa de perdão e paz”, frisou o Papa em seu discurso.
Serviço fraterno
“O mistério da misericórdia não deve ser celebrado somente com palavras, mas sobretudo com obras, com um estilo de vida realmente misericordioso, formado pelo amor desinteressado, serviço fraterno e partilha sincera. É o estilo que a Igreja deseja assumir cada vez mais em sua tarefa de favorecer a unidade e a caridade entre os homens. É o estilo ao qual foram chamadas também as religiões para serem, particularmente em nosso tempo, mensageiras de paz e artífices da comunhão; para proclamar, diversamente de quem alimenta confrontos, divisões e fechamentos, que hoje é tempo de fraternidade. Por isso, é importante buscar o encontro entre nós, um encontro que, sem sincretismos, nos torne mais abertos ao diálogo para nos conhecer e compreender melhor, eliminar toda forma de fechamento e desprezo e expelir toda forma de violência e discriminação.”
O Papa destacou ainda que o tema da misericórdia é familiar a muitas tradições religiosas e culturais, onde a compreensão e a não violência são essenciais e indicam o caminho da vida.
“A rigidez e a dureza pertencem à morte. A maciez e a ternura pertencem à vida, diz um velho ditado sapiencial. Inclinar-se com ternura sobre a humanidade vulnerável e carente é a característica de uma alma realmente religiosa, que rejeita a tentação de prevalecer com a força, que não aceita comercializar a vida humana e vê os outros como irmãos, não como números”, frisou o Pontífice.
Abrir-se ao outro
Segundo o Papa, “fazer-se próximos aos que vivem em situações que exigem mais atenção, como a doença, a deficiência, a pobreza, a injustiça, consequências dos conflitos e migrações, é um chamado que vem do coração de toda tradição autenticamente religiosa. É o eco da voz divina que fala à consciência de cada um, convidando a superar o voltar-se para si mesmo para abrir-se ao Outro que está acima de nós, que bate à porta do coração. Abrir-se ao outro que está ao nosso lado, que bate à porta de casa, pedindo atenção e ajuda”.
O homem muitas vezes se esquece de Deus e se distancia do próximo e da “memória do passado. Com isso, se repetem os erros trágicos perpetrados em outros tempos. É o drama do mal”, escolha livre do homem. Mas o amor misericordioso não deixa o homem nas ondas do mal:
“Num mundo agitado e com pouca memória, que caminha depressa deixando para trás muitos e sem perceber que permanece sem fôlego e sem meta, precisamos hoje de oxigênio, deste amor gratuito que renova a vida. O homem tem sede da misericórdia e não há tecnologia que possa saciá-lo. Procura um afeto que vai além do consolo do momento, um porto seguro onde atracar o seu navio inquieto, um abraço infinito que perdoa e reconcilia.”
Perdão
“O perdão é certamente o maior dom que podemos fazer aos outros, pois é o que custa mais. Ao mesmo tempo é o que nos torna mais parecidos com Deus.” Trata-se de uma misericórdia que “se estende também ao mundo que nos circunda, a nossa casa comum que somos chamados a proteger e preservar do consumo desenfreado e voraz” para por fim à grave crise ecológica de hoje.
O Papa convidou a rejeitar “os caminhos sem meta da contraposição e do fechamento. Que não mais aconteça que as religiões, por causa do comportamento de alguns de seus seguidores, transmitam uma mensagem desafinada, que destoa com a da misericórdia”:
“Infelizmente, não passa um dia em que não se houve falar de violência, conflitos, sequestros, ataques terroristas, vítimas e destruições. É terrível que para justificar essas barbaridades seja muitas vezes invocado o nome de uma religião ou do próprio Deus. Que sejam condenados de maneira clara estes comportamentos iníquos, que profanam o nome de Deus e poluem a busca religiosa do homem.”
Francisco pediu para que seja promovido “o encontro pacífico entre os fiéis e uma liberdade religiosa real. A nossa responsabilidade diante de Deus, da humanidade e do futuro é grande nisso e requer todo esforço, sem nenhuma pretensão”.
Fonte: Rádio Vaticano