Há quem opine que o Céu, ou Paraíso, não seja um “lugar” em sentido físico, mas sim um “estado da alma”.
Este seria o caso se nós, humanos, fôssemos apenas espírito, como os anjos ou como o próprio Deus.
Mas não somos puro espírito: somos uma unidade de corpo físico e alma imortal – e essa unidade não é acidental, mas essencial; ela não é “passageira”, mas inerente à nossa humanidade; por isso mesmo, essa integração de corpo físico e alma imortal não pode ser “truncada” após a nossa morte física, já que, sem o corpo, deixaríamos de ser nós mesmos. Não somos almas “aprisionadas” num corpo, como hereticamente se chega a dizer de quando em quando ao longo da história do pensamento. “Somos” corpo – mas corpo e alma, juntos, em unidade. Faz parte da nossa natureza humana ser essa unidade de corpo e alma.
É por isso que, após o término da nossa vida terrena e fisicamente mortal, seremos ressuscitados para a vida eterna. O nosso corpo, misteriosamente, será tornado glorioso por Deus de uma forma que desconhecemos, mas que é necessária para continuarmos a ser nós mesmos na plenitude da vida definitiva. O nosso corpo não é “descartável”. Não é um “acessório”. O nosso corpo faz parte da nossa identidade, da nossa pessoalidade, do nosso ser. Ele é parte de quem somos – não apenas uma “circunstância” na qual “estamos”.
O termo “Céu”, no sentido de “Paraíso”, significa para o católico o lugar e a condição da suprema bem-aventurança, da suprema felicidade. Se Deus não tivesse nos dotado de corpo físico, mas nos criado apenas como puros espíritos, então o Céu não “precisaria” ser um lugar: seria apenas como o estado dos anjos, que se regozijam na Presença de Deus, o Puro Bem, a Pura Felicidade, a Plenitude do Ser.
Mas acontece que o Céu é também um lugar porque nele estaremos de corpo e alma, na integridade do nosso ser. Lá encontramos a humanidade de Jesus, a bem-aventurada Virgem Maria, os anjos e as almas dos santos. Embora não saibamos dizer onde “fica” esse lugar, ou qual é a sua relação com o Universo, a Revelação não nos permite duvidar da sua existência.
Um puro espírito pode estar num lugar enquanto exerce uma ação sobre um corpo naquele lugar, mas, em si mesmo, o espírito vive numa ordem superior à do espaço. Já um ser “de fronteira”, como é o nosso caso como seres humanos, feitos ao mesmo tempo de corpo e de alma, está em um lugar devido à sua realidade que é também corpórea, física.
Ao falar do assunto em sua obra “L’Éternelle vie et la profondeur de l’âme” (1949), o sacerdote teólogo e filósofo pe. Reginald Garrigou-Lagrange, O.P., nos recorda a doutrina confirmada pelo Papa Bento XII:
“As almas de todos os santos estão no Céu antes da ressurreição dos corpos e do julgamento final. Eles veem a Essência Divina por uma visão que é intuitiva e facial, sem a intermediação de qualquer criatura. Por causa desta visão, na qual desfrutam da Essência Divina, eles são verdadeiramente bem-aventurados: têm a vida eterna e o repouso eterno” (Denzinger, nº 530).
O Concílio de Florença (cf. Denzinger, nº 693) reafirma que as almas em estado de graça, depois de purificadas, entram no Céu e veem o Deus Trino como Ele É em Si mesmo, mas com um grau maior ou menor de perfeição conforme os seus méritos durante a vida terrena.
Fonte: Aleteia