Está em andamento no Prédio da Chancelaria, em Roma, desde a segunda-feira, 29 de fevereiro, o 27º Curso sobre Foro Íntimo, organizado pela Penitenciaria Apostólica. O tema deste ano – “Coloquemos no centro com convicção o Sacramento da Reconciliação” – é inspirado numa passagem da Bula Misericordiae Vultus, com a qual o Papa Francisco convocou o Ano Santo Jubilar. Os participantes serão recebidos em audiência pelo Santo Padre na sexta-feira, 4 de março. A propósito dos objetivos destes encontros anuais, a Rádio Vaticano entrevistou Mons. Krzysztof Nykiel, Regente da Penitenciaria Apostólica:
Aprender a tocar com a mão a misericórdia
“A Penitenciaria Apostólica sempre esteve empenhada em ajudar os novos sacerdotes e os seminaristas próximos da ordenação presbiteral a terem umaformação correta para administrar frutuosamente o Sacramento da Reconciliação. A sua celebração requer, de fato, uma sempre mais adequada e atualizada preparação teológica, pastoral espiritual e jurídica, para que todos aqueles que se aproximam do confessionário possam, como pede o Papa, “tocar com a mão a grandeza da misericórdia, fonte de verdadeira paz interior”. O curso deste ano, de fato, que registra a presença de cerca de 500 participantes – insere-se no contexto do Ano Extraordinário da Misericórdia e, portanto, tem como tema motor o convite que Francisco dirigiu à Igreja na Misericordiae Vultus, para colocar na centro, com convicção, o Sacramento da Reconciliação”.
“Durante o Curso, de fato, os diversos relatores têm esclarecido como, principalmente por meio do Sacramento da Confissão, Deus se manifesta ao homem como Pai que não se cansa nunca de perdoar e de salvar. Em particular, são abordadas situações de relevante e atual delicadeza, inerentes aos ministério penitencial. Privilegiada foi a parte relativa à reta administração do Sacramento da Penitência e à resolução de casos complexos e particulares que são submetidos ao discernimento e à misericórdia da Igreja. Portanto, é necessário que os sacerdotes aprendam a administrar bem este Sacramento, porque não se improvisa confessores para isto! O Curso sobre Foro Íntimo tem precisamente este objetivo: ajudar os sacerdotes a aprender a arte de serem bons e misericordiosos confessores! De fato, conclui-se com a participação na tarde de sexta-feira 4 de março a Celebração Penitencial presidida pelo Papa na Basílica de São Pedro. Para a ocasião, a Penitenciaria Apostólica colocará à disposição para administrar o Sacramento da Confissão, 60 sacerdotes, dos quais a maior parte são penitencieiros ordinários e extraordinários das Basílicas papais da Urbe, aos quais se somarão o próprio Cardeal Penitencieiro Mor, o Regente e os oficiais sacerdotes do Dicastério. Será um momento forte de graça e uma ocasião favorável para refletir sobre o nosso chamado à conversão, a mudar de vida e colocar o amor de Deus no centro de nosso coração”.
RV: Como responder, concretamente, ao convite do Papa para colocar no centro a Confissão?
“Como é de conhecimento, o Sacramento da Confissão tem como finalidade fazer experimentar o amor misericordioso de Deus que é maior do que qualquer pecado. Por isto, quem se aproxima do confessionário deve experimentar o encontro com Cristo misericordioso, um encontro vivo e verdadeiro. Do encontro vivido, brota o início de uma vida renovada e reconciliada. O Sacramento da Reconciliação adquire assim um significado de fé existencial, porque o sinal da reconciliação não está em dissonância com o dia-a-dia do fiel. Por este motivo, os confessores têm uma grande responsabilidade diante de Deus, isto é, de serem um verdadeiro sinal do primado da misericórdia do Pai, serem misericordiosos como o Pai. Mas somente poderão sê-lo, com a condição de que eles próprios redescubram-se sempre de novo necessitados do perdão de Deus, pecadores perdoados, penitentes como publicano no templo que batia no peito dizendo: “Ó Deus, tende piedade de mim pecador”. Aos confessores é pedido, portanto, uma importante missão pastoral que é a de favorecer o encontro entre os fieis – especialmente os mais distantes da graça de Deus – e a misericórdia de Deus. Eles devem ser fontes de onde jorra a misericórdia e onde cada cristão poderá alcançar em qualquer momento, e sem parada, a água do perdão e da salvação.
RV: Qual é o desafio pastoral que os sacerdotes que cuidam das almas, e os confessores em modo particular, devem enfrentar hoje?
“O desafio de ajudar as pessoas a abrirem-se sempre mais à experiência do amor de Deus! Vivemos, de fato, em um contexto social onde comumente se procura dispensar Deus, sentido como uma presença estranha, como o antagonista da sua felicidade e por isto tenta de desfazer-se dele, iludindo-se em poder vencer sem a sua ajuda. Perdido o caminho que o leva em direção à Deus, o homem tem como referencial a si próprio, torna-se egoísta, voltado para si mesmo, fechado aos outros e ao mundo que o circunda. Portanto, o homem contemporâneo, redescobrindo a grandeza do amor de Deus que se revela sobretudo no conceder o seu perdão, pode reencontrar mais confiança em si mesmo, nas suas capacidades e talentos, no seu “ser pessoa” criado à imagem e semelhança de Deus. Tomar consciência de que Deus não é concorrente do homem, mas é o seu maior e verdadeiro apoiador, torna-se ocasião favorável para experimentar a verdadeira felicidade do homem, isto é, o ser amado incondicionalmente por Deus que se alegra quando nos perdoa e quando o buscamos com coração sincero”.
RV: O senhor poderia antecipar algo sobre o simpósio que está sendo organizado para o final de março?
“Por ocasião do Ano Jubilar Extraordinário, a Penitenciaria Apostólica, acolhendo o convite do Papa na Misericordiae Vultus a “viver na vida de cada dia a misericórdia que o Pai sempre derrama sobre nós”, organizou um encontro de reflexão e aprofundamento sobre a Bula de Convocação, e que se realizará em 31 de março e 1º de abril no Prédio da Chancelaria. A peculiaridade do Simpósio consiste no fato de que o título de cada conferência coincidirá com uma citação tirada da Misericordiae Vultus. Cada relator terá assim a ocasião de aprofundar o tema da misericórdia do ponto de vista bíblico, litúrgico, teológico, espiritual, sacramental e pastoral. Os destinatários são os sacerdotes, os religiosos e religiosas, alunos das faculdades teológicas, agentes pastorais e leigos comprometidos nas comunidades paroquias de pertença.
Fonte: Rádio Vaticano