Conta uma lenda que certa mulher pobre com uma criança no colo, passando diante de uma caverna escutou uma voz misteriosa que lá dentro lhe dizia: “Entre e apanhe tudo o que você desejar, mas não se esqueça do principal. Lembre-se, porém, de uma coisa: Depois que você sair, a porta se fechará para sempre. Portanto, aproveite aoportunidade, mas não se esqueça do principal”. A mulher entrou na caverna e encontrou muitas riquezas. Fascinada pelo ouro e pelas joias, pôs a criança no chão e começou a juntar, ansiosamente, tudo o que podia no seu avental. A voz misteriosa falou novamente: “Você só tem oito minutos”. Esgotados os oito minutos, a mulher carregada de ouro e pedras preciosas, correu para fora da caverna e a porta se fechou. Lembrou-se, então, que a criança ficara lá mas a porta estava fechada para sempre! A riqueza durou pouco e o desespero durou sempre.
O mesmo pode acontecer conosco. Temos um período de tempo para viver neste mundo e uma voz sempre nos adverte: Não se esqueça do principal – o ser, o servir e o amar, vivendo a dimensão infinita, eterna, celeste. Mas a ganância do ter, do poder e do aproveitar-se, vivendo apenas a dimensão finita, transitória, terrena, nos fascina tanto que o principal vai ficando sempre de lado. Assim, esgotamos o nosso tempo apenas com a dimensão finita, transitória, terrena, e deixamos de lado a dimensão infinita, eterna, celeste! O tempo do ter, do poder e do aproveitar-se passa com a morte que chega de inesperado. Quando a porta desse tempo fechar, o principal – o ser, o servir e o amar – ficou na “caverna”.
Jesus de Nazaré, para os fiéis cristãos o Salvador da humanidade, já deixou claro no seu famoso “Sermão da Montanha” que “não ajuntemos tesouros aqui na terra, onde a traça e a ferrugem destroem e os ladrões assaltam e roubam; ao contrário, ajuntemos tesouros no céu, onde a traça e a ferrugem não destroem, nem os ladrões assaltam e roubam”.
Mais do que nunca o Sermão da Montanha torna-se contundente para os tempos de hoje: Vivemos uma cultura cada vez mais forte de “juntar tesouros aqui na terra” e descartar a necessidade de “juntar tesouros no céu”. A cultura do “juntar tesouros aqui na terra”, é a cultura do finito e não do infinito; é a cultura do transitório e não do eterno; é a cultura do terreno e não do celeste. Essa cultura leva a uma ilusão: tudo o que acumulamos de tesouros aqui na terra, “a traça e a ferrugem destroem e os ladrões assaltam e roubam”.
Por que, então, não investir na cultura do “juntar tesouros no céu”: a cultura do infinito, do eterno, do celeste? Por que, então, não apostar no principal: o ser, o servir e o amor, vivendo a dimensão do infinito, do eterno, do celeste?
Não esqueçamos do principal!
Dom Jacinto Bergmann
Arcebispo de Pelotas (RS)