Durante o voo da Philippines Airlines de Manila para Roma, o papa Francisco concedeu uma entrevista coletiva aos 77 jornalistas que estavam a bordo.
Foram vários os temas tocados, como as próximas viagens, entre as quais o papa confirmou Equador, Bolívia e Paraguai ainda em 2015, bem como, em setembro, os Estados Unidos, onde visitará Washington, Filadélfia e Nova Iorque. “Entrar nos Estados Unidos pela fronteira do México seria uma coisa muito bonita, como sinal de irmandade, mas ir ao México sem visitar a Virgem de Guadalupe seria um drama…”.
Também neste ano, Francisco viajará para a República Centro-Africana e para Uganda. “Creio que será no final do ano”, observou. Em 2016, ele pretende ir ao Chile, à Argentina e ao Uruguai, além, possivelmente, do Peru.
O papa falou também do que aprendeu com os filipinos, das suas impressões sobre a pobreza em Manila e em Colombo e da corrupção política. Os pobres são vítimas da cultura do descarte, recordou, destacando ainda a tendência a nos acostumarmos a ver o luxo ao lado da pobreza. “Nós estamos aqui, e lá estão os descartados”. A Igreja deve dar, cada vez mais, o exemplo da rejeição de toda mundanidade. O papa assegurou que, “para nós, os consagrados, os bispos, os sacerdotes, as freiras, os leigos, o pecado mais grave é a mundanidade”. Por isso, “a Igreja tem que se despojar”. Francisco citou o caso de um sacerdote que acompanhou um mendigo ao hospital porque ele tinha dor de estômago. Em uma ocasião anterior, tinham lhe dado apenas uma aspirina. “Ele tinha peritonite. Se ele fosse sozinho até o hospital, iam descartá-lo e ele iria morrer”.
A colonização ideológica da família, a abertura à vida, a paternidade e a maternidade responsável e a contracepção também fizeram parte da conversa. O pontífice explicou que a colonização ideológica consiste em “mudar uma mentalidade ou estrutura” com uma ideia que nada tem a ver com os afetados. Acontece no âmbito da família também. “Durante o sínodo, os bispos africanos se queixavam de que certos empréstimos são concedidos com determinadas condições. Há quem se aproveite das necessidades de um povo como uma oportunidade para lucrar com as crianças. Mas não é nenhuma novidade. As ditaduras do século passado fizeram o mesmo, entraram com as suas doutrinas. Pensem na juventude hitlerista…”.
Sobre a contracepção, Francisco disse que “a palavra-chave para responder ao desafio é a paternidade responsável. Cada pessoa, no diálogo com o seu pastor, procura o jeito adequado de viver essa paternidade. Me desculpem, mas há alguns que acham que, para ser bons católicos, temos que ser como coelhos”.
“Para as pessoas mais pobres, o filho é um tesouro. Paternidade responsável, mas também considerar a generosidade desse pai ou dessa mãe que vê no filho ou na filha um tesouro”.
Não faltou a referência à liberdade de expressão e às reações aos insultos: quando se provoca constantemente, corre-se o risco de uma reação injusta, “porque é humano”. O papa afirmou que uma reação violenta é sempre ruim, motivo pelo qual a liberdade precisa ser acompanhada pela prudência.
Quanto à corrupção política no mundo, Francisco disse que, em 2001, perguntou ao chefe do gabinete da presidência argentina quanto das ajudas realmente chegava ao destino. Ele respondeu: 35%. Em outra ocasião, ofereceram a ele, quando ainda era arcebispo de Buenos Aires, um donativo de 400 mil dólares para os pobres. Mas ele teria que “doar” de volta, depois, a metade do valor para os próprios “doadores”.
Fonte: Zenit