“Vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo” (Cf.Mt.2,2).Ao meditarmos sobre o Evangelho de São Mateus que nos conta a adoração dos Magos, vem-nos à mente as palavras de Jesus em Lucas 12, 54-56, o entendimento dos sinais do tempo, tema tão caro ao saudoso Papa João XXIII e que o Concilio Vaticano II nos exorta a procurar entender.
O que os santos Reis na abertura de seu coração entenderam claramente como o anúncio da plenitude dos tempos, que o Rei Eterno chegara a este mundo e que viera para o seu povo, como nos ensina o Evangelho de São João –“veio para junto dos seus”(Cf. Jo 1,11), os doutos e sábios do seu povo que tinham o anúncio profético a seu favor e que o conheciam, não entenderam.
Pelo contrário, continua o texto sagrado, ”Quando ouviu isso, o rei Herodes ficou atordoado e com ele toda a Jerusalém” (Cf. Mt. 2,3). Por quê? Porque seu coração estava endurecido, seus olhos não viam e seus ouvidos estavam surdos, preocupados com as riquezas e o poder. Em resposta àqueles que procuravam a luz da fé e que percebiam nos sinais a realidade das coisas invisíveis, conceberam o plano da maldade, da morte de quem viera para dar a Vida e a Luz a todo o homem que vem a este mundo (Cf. Jo 1).
Os Magos partiram para Belém, porque acreditaram na profecia e, ao partir de Jerusalém, “a estrela que viram no Oriente, ia caminhando à frente deles até que parou sobre o lugar onde estava o Menino” (Cf. Mt.2,9). Diferente da angústia e do medo que dominava Jerusalém, sua alegria não tinha limites e, prostrando-se diante dele, reconheceram na sua humanidade a divindade que dava àquela a imortalidade.
Na adoração dos santos Reis a Igreja vê as primícias do chamado e do acolhimento à fé por todas as nações. Como o povo escolhido não acolhera a Palavra feito Carne, foi dado o poder de se tornarem filhos de Deus a todos aqueles que não nasceram do sangue, e nem da vontade do homem, mas de Deus.
Passados 20 séculos, como há tantos ainda que não entendem os sinais! A realidade integral de tudo só é visível pela fé. A razão e os sentidos não nos dão o conhecimento pleno que só se adquire quando dobramos os joelhos e reconhecemos em Cristo, o “Sacerdote dos bens futuros” que conquistou para nós uma “redenção eterna” (Cf. Hb. 9).Com a fé neste Menino a que os Magos adoraram, já não existe mais judeu nem grego, não existe mais escravo nem livre, porque todos somos um só em Cristo (Cf. Gal.3, 28).
A festa da Epifania tem o mesmo significado do Natal, a alegria de recebermos o Salvador dos braços de Maria, sua Mãe. Ao júbilo dos pastores quando ouviram o cântico dos anjos, acresçamos agora o gáudio imenso ao ver a sua Estrela sobre a gruta de Belém.
Hoje, com o desenvolvimento da ciência e da técnica desconhecemos os sinais da natureza. Não percebemos mais quando vai chegar a primavera ou o inverno, quais são os sinais da natureza. Seguimos nossa vida de acordo com a previsão que nos fazem os meios de comunicação. E ainda assim somos surpreendidos porque também eles são finitos.
Mas a presença de Deus continua a se manifestar em tudo, pertinho de nós. Podemos senti-la como os Magos e ouvir sua voz ou rejeitá-la como Herodes e conturbar nossa mente pelo ódio e vaidade. Quando Jesus multiplicou os pães no deserto, a multidão viu o sinal, mas não o entenderam, como lhe recriminou o Senhor: “Vós me procurais não porque vistes os sinais, mas porque comestes o pão e ficastes saciados…A obra de Deus é que acrediteis naquele que ele enviou” (Cf. Jo.6,26-29).
Dom de Deus ter acolhido a fé não podemos deixar que esta claridade fique fechada em nós mesmos. Somos o sal da terra e a luz do mundo. Que adianta o sal se ele perder sua força, que adiante a luz se a escondermos? A fé exige que sejamos presença no mundo, como discípulos e missionários a proclamar a riqueza do Evangelho. A chama se extingue se não se tornar missão.
Trabalhemos para que todas as nações da terra vejam esta Luz a acolham e aportem seus corações a este Menino que, só Ele, nos pode dar a paz.
Dom Eurico dos Santos Veloso
Arcebispo Emérito de Juiz de fora – MG
Benção das Casas
Uma tradição bastante antiga do tempo da Epifania é a bênção das casas por parte do clero residente na paróquia. Mas também é possível aos fiéis fazer suas próprias orações pelo lar. Uma delas você pode fazer à porta de casa sozinho(a) ou com seus familiares. Estando todos reunidos, fazem a seguinte coleta:
Senhor Deus do Céu e da Terra, que revelaste o teu filho unigênito a todas as nações com o sinal de uma estrela: abençoa esta casa e todos os que nela habitam. Enche-a com a luz de Cristo, para que o seu amor pelos outros reflita o teu amor. Por Cristo, nosso Senhor. Amém.
No final da bênção, você pode também fazer uma inscrição, com giz, no batente da porta:
20+C+M+B+15
CMB significa “Christus Mansionem Benedicat” (Cristo abençoe esta casa) e também o nome dos Reis Magos (Caspar, Melchior e Baltasar), inseridos entre os algarismos do ano corrente (no caso 2015). Cada letra é intercalada com uma cruz.
Essa tradição vem dos tempos da Igreja Primitiva, e servia aos cristãos como forma de identificarem-se como Povo de Deus, assim como os hebreus fizeram no cativeiro do Egito.
Muito linda esta bencao. Linda como todas. Obrigada por esta maravilha