Quanta liberdade ele tem para agir, curar, consolar, purificar, restaurar e modelar, segundo o beneplácito divino, o seu coração?
Esse é um dos maiores dons que possuímos: somos templos do Espírito Santo! O Espírito Santo habita em nós! Quando compreendemos essa verdade passamos a ser verdadeiramente livres, porque já não seremos movidos por sentimentos, tentações ou tendências do momento, mas o Espírito Santo que nos habita, nos dá a graça e a capacidade de discernir entre o bem e o mau, entre o bom e o melhor; com a inteligência iluminada pela graça de Deus e com uma vontade alicerçada na caridade, seremos, de fato, livres.
Com frequência dizemos em nossas orações: “Vinde, Espírito Santo”, porém nem sempre compreendemos que não se trata de uma “vinda” externa, como se fosse uma chuva que cai suavemente sobre nós. Não! A verdade é que somos templos do Espírito Santo, que está em nós (cf. 1Cor 6,19). O apóstolo Paulo nos ensina que “Deus enviou aos nossos corações o Espírito do seu Filho, que clama: Abba, Pai! De modo que já não és escravo, mas filho.” (Gal 4,6,7). Portanto, quando dizemos, “vinde, Espírito Santo”, devemos compreender que a sua ação em nós acontece de dentro para fora. Assim, somos convidados a entrar no mais íntimo de nós para encontrar aquele que nos ama.
Como você se relaciona com esse divino hóspede da sua alma? Quanta liberdade ele tem para agir, curar, consolar, purificar, restaurar e modelar, segundo o beneplácito divino, o seu coração?
Nas suas reflexões sobre o Espírito Santo, santo Ambrósio fala de um advento que “transforma a Igreja em sede de santidade, em sacrário da Trindade, portanto todos os membros da Igreja, em virtude da graça que emana do seu centro, são transformados em “rios plenos de bondade” (cf. Exameron, 3,1,5-6), de fato, o Senhor disse que aqueles que crerem nele, “do seu seio jorrarão rios de água viva” (Jo, 7,38). Para Ambrósio, ser renovados pelo Espírito Santo é ser íntimos de Deus que habita em nós.
Ele explica que, pelo fato de Deus nos ter ungido e selado os nossos corações com o Seu Espírito, nós possuímos algumas particularidades: a primeira é o fato de termos sido chamados por Deus, a segunda é a graça de, no Batismo, termos sido crucificados com Cristo e a terceira é a particularidade que se verifica quando se recebe o selo espiritual, ou seja, o desejo de santidade (cf. De Sacramentis, VI,2,5-9). Para santo Ambrósio a santidade é ser transformado em Cristo, por graça do Espírito que habita em nós. Este é o sentido da vida nova que o Espírito instaurou na Igreja a partir de Pentecostes, porém só pode ser “homem em Cristo aquele que é todo em Cristo” (in: Explanatio Psalmi, 36).
Aquele que acolhe o dom de Deus e cresce na amizade com o divino hóspede, torna-se um perfume da Trindade sobre a terra, porque “somos para Deus o bom odor de Cristo” (2Cor 2,15), e torna-se também um hino de louvor a Deus, por meio do qual o Senhor pode despertar os corações ainda surdos à sua voz.
Para Santo Isidoro de Sevilha (+636) o Espírito Santo abre os corações ao desejo e ao gosto da contemplação, porque a todos aqueles que se abrem à sua ação, ele dá a graça e a ciência necessárias para tratar as coisas da terra, e o desejo, o gosto e a sabedoria da contemplação para as coisas do céu (cf. Differentiarum libri, 2,147); além disso, o Espírito Santo liberta da tristeza e alarga os corações a uma caridade sem limites: “O amor que esta caridade suscita é comparado à morte (cf. Ct 8,6), porque como a morte separa violentamente a alma do corpo, assim o amor de Deus separa violentamente o homem do amor mundano.” (Idem, 7,6).
Portanto, ao rezarmos: “Vinde, Espírito Santo”, abramos os olhos da alma e contemplemos aquele que nos habita, vivamos em amizade com aquele que nos ama e que é o único que pode nos ensinar a amar. Rezemos ao Espírito sabendo que Ele, nosso hóspede divino, deve tornar-se nosso mestre interior, deve nos ensinar a amar como Cristo nos amou; só Ele pode nos conduzir à santidade; só Ele pode tirar-nos das trevas e nos introduzir na luz de Deus.
Veni, Creator Spiritus!
Fonte: Comshalom