“A Evangelização da Igreja acontece especialmente pelas mãos dos padres”. É o que afirma o arcebispo de Palmas (TO) e presidente da Comissão Episcopal para os Ministérios Ordenados, Dom Pedro Britto. Nesta semana dedicada às vocações sacerdotais na Igreja, o arcebispo também reflete sobre a mensagem que o Papa Francisco tem trazido para este ministério sacerdotal.
Dom Pedro recordou o importante trabalho que exercem os presbíteros, expressão concreta da presença de Cristo e da Igreja nas comunidades. “Gostaria de dizer aos padres que estamos contentes por este ministério tão próximo do povo e inserido na vida da comunidade. Embora os leigos tenham uma mensagem importante, o simbolismo do padre é muito forte”.
O Dia do Padre foi celebrado pelos católicos no último domingo, 4, festa do santo patrono dos sacerdotes, São João Maria Batista Vianney. Em agosto, a Igreja dedica suas reflexões e orações especialmente para as vocações. A iniciativa acontece todos os anos no Brasil.
Os padres e a mensagem de Francisco
Recordando a mensagem do Papa Francisco durante sua passagem pelo Brasil, Dom Pedro Britto traçou um paralelo entre o ensinamento do Papa e o exercício do sacerdócio.
Ao visitar o país, o Santo Padre celebrou uma Missa com o clero presente no Rio de Janeiro, no sábado, 27 de julho. Na ocasião, Francisco exortou aos sacerdotes e bispos a desenvolverem a vocação missionária da Igreja, indo ao encontro do povo.
Sobre a importância da vida de oração para o padre, mencionada pelo Papa, Dom Pedro acrescentou que, na evangelização, o encontro com Cristo é ponto chave. “As técnicas são uns instrumentos de evangelização, ajudam a Igreja no seu trabalho, mas nada se compara ao encontro que a pessoa tem com Jesus Cristo, o contato imediato com Ele, seja através da oração, da escuta da Palavra, da celebração do sacramento da Eucaristia ou por meio da caridade ou onde se pode encontrar a veia do Evangelho”.
Para o bispo, o que de fato salva é o encontro com Cristo; as técnicas, os métodos pragmáticos são apenas meios que não podem substituir o encontro.
A cultura do encontro na missão sacerdotal
O Papa Francisco tem insistido na necessidade de excluir a cultura do descartável e buscar a cultura do encontro. Esse foi outro aspecto destacado aos padres no dia 27 de julho.
Para Dom Pedro, essa cultura deve ser vivida em duas dimensões: a do encontro com Cristo e com os irmãos nas periferias da vida ou em qualquer ambiente em que vivem. Segundo o bispo, os padres, a Igreja, devem ser especialistas em encontrar-se, seja com Cristo, seja com as pessoas.
Ativismo religioso: todo cuidado é pouco
Em contraste à cultura do encontro, estão a eficiência e o pragmatismo. Sobre essa questão, Dom Pedro manifestou a necessidade de cuidado para que os padres e leigos não caiam no ativismo.
“Nós podemos cair no perigo do ativismo, do fazer coisas como se fôssemos empresários, na eficiência das coisas. Tudo nos conformes, na Igreja tudo está no lugar, uma liturgia impecável, um altar muito bonito e etc. Tudo muito eficiente, mas será que há vida nessa paróquia, será que sobra tempo para esse sentar-se ao lado, esse escutar, esse sair para as periferias existenciais e no coração?”, questionou.
Para ele, atividades como cuidar da beleza das coisas, a técnica, a metodologia, o planejamento, o escrever livros e fazer documentos são importantes, mas não pode faltar a “veia essencial que é a vida espiritual”. “O mistério de Deus é mais importante que a eficiência e o ativismo”, salientou.
“Não estamos acusando ninguém – disse o bispo – mas às vezes achamos que já atingimos o ápice, nos entretemos com outras verdades e questões e deixamos de procurar o outro, de ir atrás, de insistir. O mundo de hoje não nos permite fazer isso! O Papa percebeu essa realidade e nos disse com todas as letras que é preciso mudar de perspectivas”, afirmou.
Dom Pedro acredita que é necessário rever a atitude de ficar esperando, conformados, “pescando no próprio aquário e cuidando da pastoral de conservação”. Para ele, a conversão pastoral pedida pelo Papa aos bispos da América Latina requer “abandonar as estruturas caducas que não mais evangelizam”. “Se a Igreja quiser sobreviver hoje, e ela quer e precisa, o caminho é este indicado pelo Papa”, lembrou.
Por fim, Dom Pedro convidou o clero a viver a essência de sua vocação. “Gostaria de dizer isso aos sacerdotes: ‘Seja padre, somente padre, totalmente padre!’ Seja padre, que significa o querer, a vocação; somente padre porque às vezes a gente quer ser padre, mas também quer fazer outras coisas, quer dividir o coração com outras pessoas e viver como o mundo quer; e ser totalmente padre que significa ser de coração, por inteiro. Essa é minha mensagem aos sacerdotes”.
Fonte: CN Notícias