Ao chegar à Bolívia nesta quarta-feira (08/07), segunda etapa de sua viagem à América Latina, no trajeto entre o aeroporto e La Paz, o Pontífice fez uma parada de alguns minutos no local simbólico onde o sacerdote jesuíta Luis Espinal Camps SJ foi assassinado pela ditadura de Garcia Meza, em 1980.
“Boa tarde, queridos irmãos e irmãs. Parei aqui para saudar vocês mas, sobretudo, para recordar. Recordar um irmão, um nosso irmão, vítima de interesses que não queriam que se lutasse pela liberdade da Bolívia. P. Espinal pregou o Evangelho e esse Evangelho encomodou e, por isso, o eliminaram”, disse o Papa antes de proferir a seguinte oração:
“Que o Senhor tenha em sua Glória ao Padre Luis Espinal, que pregou o Evangelho, este Evangelho que nos traz liberdade, que nos torna livres. Como todo filho de Deus, Jesus nos trouxe esta liberdade, e ele predicou este Evangelho. Que Jesus o tenha junto a Ele. Dê-lhe, Senhor, o descanso Eterno e o faça brilhar para a luz que não tem fim. Que descanse em paz”, disse o Papa ao abençoar todos os presentes.
História
Padre Luis, poeta, jornalista e cineasta, nasceu na Espanha em 2 de fevereiro de 1932. Entrou na Companhia de Jesus em 1949, sendo ordenado sacerdote em Barcelona em 1962. Enviado como missionário à Bolívia em 1968, exerceu atividade pastoral em defesa dos operários, também na mídia (Rádio Fides, televisão, filmes e livros). Participou das lutas sociais e de uma greve de fome de 19 dias, ao lado das famílias de mineradores, em 1977. Durante a ditadura de Luis Garcia Meza, um dos períodos mais sangrentos da história da Bolívia, Padre Luis foi preso em 21 de março de 1980 por paramilitares. Seu corpo com sinal de violência foi encontrado no dia seguinte, no Km 8 da estrada para o monte Chacaltaya, ao longo do Rio Choqueyapu.
O parecer de jesuítas bolivianos
A morte do jesuíta provocou forte comoção na população que participou em massa dos funerais realizados dia 24 de março em La Paz. Em 2007, o Presidente Evo Morales declarou com um decreto o dia 21 de março como “Dia do Cinema boliviano”, em comemoração ao aniversário do assassinato de Luis Espinal, em reconhecimento pela sua luta pelos direitos humanos e pela democracia, e em reconhecimento pela sua contribuição ao cinema na Bolívia.
Alguns jesuítas da Companhia de Jesus expressaram suas impressões e sentimentos sobre o gesto de Francisco, reconhecendo que é um reconhecimento do martírio de uma pessoa como tantas outras que ofereceram sua vida na defesa dos direitos humanos, da fé e da justiça. O Diretor do grupo Fides, Eduardo Pérez, admitiu que inicialmente não achou conveniente participar da organização do ato, porém, agora diz entender ser um gesto louvável de Francisco.
Simbólico
Já o antropólogo e linguista Xavier Albó, considerado o “autor intelectual” da homenagem. Considera-se feliz pelo gesto do Papa, não obstante seu desejo fosse levar o Papa Francisco até o local do assassinato. No entanto, a escassez de tempo impediu tal feito. “Pode não ser o mesmo local, porém é simbólico, pois por lá passou o corpo de Luis Espinal, já estava morto quando passou por lá. E me parece muito bom que agora passe por lá o Papa Francisco”.
Para o ecônomo, Fredy Quilo, a bênção de Francisco no local representa também um reconhecimento de todos os mártires da América Latina, católicos e não-católicos. Já para o Vigário Judicial, Miguel Manzanera, será difícil apresentar o caso de Luis Espinal como martírio, pois esteve associado a movimentos de caráter socialista e revolucionários, devendo, portanto, ser mais reconhecido pelo exemplo de coragem e de amor ao próximo e aos mais fracos.
Defensor da fé
Para o teólogo Víctor Colina, por sua vez, companheiro de Luis Espinal, com quem compartilhou muitas experiências dentro da Companhia de Jesus, Espinal foi um homem profundamente cristão, espiritual e de grande vivência mística, profética. Para ele, o gesto do Papa “é significativo, pois é um reconhecimento de que Espinal não era um homem perigoso, que se envolveu onde não lhe dizia respeito, mas um homem que defendeu a fé e a justiça”.
Por fim, o Provincial da Companhia de Jesus na Bolívia, Osvaldo Chirveches reconheceu que Espinal “não é patrimônio da congregação, mas de todo o povo boliviano, as pessoas recordam dele com carinho, pois foi um excelente seguidor de Jesus. Ademais, o Papa Francisco conhece muito bem este acontecimento e por isto o brindará com uma oração em memória de Espinal”.
Fonte: Rádio Vaticano