O porta-voz do Vaticano confirmou hoje que o Papa se encontra “várias vezes por mês” com vítimas de abusos sexuais, em reuniões privadas que normalmente não são noticiadas.
A declaração de Greg Burke surge no dia em que foram publicadas as declarações de Francisco no seu encontro de janeiro último com grupos de jesuítas no Peru, a 19 de janeiro, na revista ‘La Civiltà Cattólica’, com o pontífice a revelar que, normalmente, “à sexta-feira”, se reúne com pessoas que foram abusadas sexualmente por membros do clero ou em instituições da Igreja Católica.
“O Papa Francisco ouve as vítimas e procura ajudá-las a curar as graves feridas causadas pelos abusos sofridos. Os encontros decorrem com a maior reserva, por respeito às vítimas e ao seu sofrimento”, precisa a sala de imprensa da Santa Sé.
No texto publicado hoje na “Civiltà Cattolica”, aprovado pelo pontífice, Francisco fala numa realidade “horrível” e uma “grande humilhação para a Igreja”.
“É preciso ouvir o que sente alguém que foi abusado. Às sextas-feiras – às vezes sabe-se, outras não – encontro-me habitualmente com algumas destas pessoas”, referiu.
O Papa aponta o dedo ao “nível de hipocrisia” de alguns membros das comunidades católicas perante este problema, que classifica como “a maior desolação que a Igreja está a sofrer”.
Francisco confessou ter sentido “vergonha” quando um dia, ao passear por Buenos Aires, ouviu um pai chamar o seu filho quando o viu, pedindo-lhe “cuidado com os pedófilos”.
“Às vezes exibem-se ‘prêmios de consolação’ e há mesmo quem diga: ‘Sim, olha as estatísticas, 70%, não sei, dos pedófilos está no meio família, os conhecidos; depois nos ginásios, nas piscinas; a percentagem de pedófilos que são padres católicos não chega a 2%’”, relatou.
Para o Papa, não é legítimo minimizar este problema, que destrói as vítimas.
“É terrível, mesmo que fosse só um destes nossos irmãos”, sustentou.
No final de janeiro, Francisco enviou ao Chile o arcebispo maltês D. Charles Scicluna para analisar a situação do bispo Juan Barros, que está a ser acusado de ter encoberto os casos de abusos sexuais envolvendo a Igreja Católica naquele país.
O atual presidente do Colégio de Recursos para a Sessão Ordinária da Congregação para a Doutrina da Fé, “em matéria de grave delito” e em especial os casos de abusos sexuais a menores, seguiu para Santiago do Chile “a pedido de Francisco para receber novos depoimentos relativos a esta matéria”.
O Papa abordou os casos de abusos sexuais cometidos por membros do clero ou em instituições da Igreja Católica no Chile, durante um encontro em Santiago com as autoridades políticas, civis e membros do corpo diplomático do país, no início do segundo dia da sua vista àquele país da América do Sul.
“Não posso deixar de dar conta da vergonha que sinto pelo dano irreparável causado às crianças por ministros da Igreja”, frisou.
Fonte: Agência Ecclesia