A morte liberta o escravo. A morte submete rei e papa. E paga a cada um seu salário. E devolve ao pobre o que ele perde. E toma do rico o que ele abocanha (Hélinand de Froidmont. Os Versos da Morte).
Neste fim de semana quero partilhar com vocês um texto que me fez muito bem. São palavras que deixam sentimentos profundos e questionadores.
Um só planeta, dois mundos tão distantes …Terra produz o suficiente para todos. Porém, há tantos que despertam e adormecem com fome…Políticos de um partido qualquer, comemoram uma vitória qualquer, numa eleição qualquer…Que diferença faz? Cada vez mais imersa em escândalos, falcatruas e no seu eterno teatro de vaidades, a política partidária se distancia cada vez mais daqueles a quem deveria servir: o povo. As bolsas de valores comemoram os crescentes lucros obtidos com rentáveis ações. É a festa dos ricos, cada vez mais ricos…
Enquanto isso, no outro extremo, a vã espera por qualquer resto, migalha ou sobra que possa atenuar a fome. Que cruel abismo é este que construímos…? De um lado, o consumo desenfreado e do outro, nada para consumir…Como a vida é frágil, se a abandonam …Separados pelo abismo, dois mundos diferentes: De um lado, o nosso mundo, o dos abençoados pelo destino. Do outro, o triste mundo da grande maioria de excluídos, esquecidos, ignorados pelo destino…Enquanto a maioria prefere ignorar o que se passa do outro lado do abismo, existem, – ainda bem – , aqueles que enxergam além, se preocupam, e tentam construir pontes.
E uma dessas pessoas se chama Angelina, ‘pequeno anjo’ em italiano. O que leva uma jovem atriz a abdicar de todo conforto, e viajar o mundo para aliviar com seu abraço um coração entristecido. Angelina Jolie conta que durante os primeiros dois anos chorava continuamente durante as viagens. Hoje, diz que aprendeu a controlar melhor o sentimento de desespero diante de tamanha miséria, e que busca meios que viabilizem uma solução para os tantos problemas encontrados “Eu não me sinto apenas americana, mas cidadã do mundo”.
Além de emprestar sua imagem, e doar seu tempo e dinheiro a refugiados e órfãos, ela leva a realidade que vivencia nas suas viagens até os líderes mundiais e governantes dos países ricos, propondo soluções e cobrando ações. Na época, ao comentar o episódio numa entrevista afirmou: “Existem alguns riscos que são dignos de se correr, porém o medo dos riscos é indesculpável. Você tem que defender aquilo em que acredita. O que tenho feito tem me dado uma nova perspectiva e me levado a descobrir um outro mundo, de dor e medo. Alcançar o próximo me conduz a uma vida de significado.”
As premiações, o Oscar e o Globo de Ouro que ela acumula, os filmes e festivais…Tudo isso passará. Porém, o amor, a solidariedade, a generosidade e a compaixão, ficam. São estes os bens eternos que para sempre o acompanharão aqueles que a manifestam.
“Felicidade é a certeza de que nossa vida não está passando inutilmente” (Érico Veríssimo). Como seria diferente se todos nós tivéssemos um pouco mais de humanidade. Por isso comecei este artigo citando a morte. Pois quando pensamos na brevidade da vida, aumenta em nós o fator motivacional de entender que precisamos fazer algo para melhorar a vida de todos. Afinal, vivemos em um só planeta. Mas, por hora, ainda convivemos com dois mundos. Boa semana!
Dom Anuar Battisti
Arcebispo de Maringá (PR)