“…a obediência é uma autêntica benção, não só para os religiosos, mas para todos que buscam ser santos vivendo o amor.”
Vamos olhar hoje para o último voto que os religiosos fazem, o da obediência. Pode-se dizer que a liberdade é uma das características do ser humano que mais é apreciada. Todos querem ser livres, parece ser uma condição para ser feliz. Estar preso, seja ao que for, é visto muitas vezes como algo que vai contra a natureza do homem. Mas o que é que chamamos de liberdade? E será que a obediência que professam os religiosos é totalmente contra a liberdade que todos experimentamos como necessidade em nosso interior?
Para chegar a compreender um pouco melhor essa questão tão importante, é preciso começar olhando para o que entendemos por liberdade. Será a liberdade a capacidade de fazer o que bem entendermos? Quando um pai diz para uma criança que ela não coloque o dedo na tomada e ela obedece, ela está sendo menos livre? Existirá um limite para a nossa liberdade? É conhecido aquele ditado popular que diz: “A minha liberdade termina onde começa a do outro”. Isso é verdade?
De fato, nós podemos escolher entre uma coisa e outra. E isso é fantástico! Diz tanto sobre quem somos e sobre a nossa dignidade. Mas o que nos leva a escolher uma coisa e não a outra? A vida é feita de escolhas, umas mais e outras menos importantes, mas as estamos fazendo desde o momento em que nos levantamos até quando vamos dormir. O que nos dá a segurança de que estamos escolhendo o melhor caminho para nós?
Bom, assumindo que fazemos as nossas escolhas livre e conscientemente (Penso que muita gente vive hoje mais inconscientemente do que usando essa faculdade, e se não sabemos o que estamos escolhendo, como podemos falar que somos realmente livres?), podemos dizer que há uma certa confiança em nossa capacidade para julgar o que é bom e o que não é tão bom, podendo escolher assim o melhor para nós. Mas será que realmente sabemos?
Pela fé sabemos que estamos quebrados interiormente desde o pecado original e a isso fomos acrescentando nossos pecados pessoais. Uma das consequências do pecado é diminuir a nossa capacidade de raciocinar e conhecer a verdade. Sabemos que precisamos de ajuda para caminhar pelo caminho correto. Isso não anula nossa capacidade de conhecer, mas sabemos que precisamos ter uma certa desconfiança de nós mesmos, já que em nós estão as concupiscências, que nos levam, se nos deixamos levar por elas, para longe da Verdade, para longe de Deus.
O religioso é alguém que colocou a sua confiança naquele “pai que o disse para não colocar o dedo na tomada”, e muito mais do que isso. Ser obediente, no âmbito da fé, é dizer a Deus que confiamos nele totalmente e sabemos que sem Ele não conseguiremos manter-nos fiel. Significa entender que a liberdade não é fazer o que queremos, porque muitas vezes queremos coisas que nos escravizam, mas querer o que Deus quer e colocar isso em prática. Cumprir o plano de Deus é o oposto total de qualquer limitação da liberdade, é exercer essa liberdade ao grau mais alto que podemos pensar aqui nesse mundo.
Por isso podemos dizer sem medo de errar, mas sabendo que o pensamento mundano nunca vai entender isso, que a obediência é uma autêntica benção, não só para os religiosos, mas para todos que buscam ser santos vivendo o amor. Ser fiéis a Igreja é uma maneira de ser obedientes a Deus. Os religiosos encontram nos superiores um símbolo concreto da vontade de Deus para eles, uma oportunidade muito bonita de ser fiel de maneira particular a esse Plano Divino.
Agora que meditamos nos três votos que os religiosos fazem, podemos perceber que uma expressão foi comum aos três textos. A mentalidade mundana. E é que somente se compreende essas renúncias desde uma perspectiva de fé. O mundo sempre encontrará no verdadeiro cristão (não apenas naqueles que professam esses votos) um sinal de contradição, um “louco” (1Cor 1,18), mas ele sabe que “Ninguém vem ao Pai se não por mim” (Jo 14, 6).
Fonte: A12