Francisco viveu e está prestes a viver intensos meses de viagens e Sínodo. Seu sexto ano foi caracterizado pelo flagelo dos abusos e pelo sofrimento de alguns ataques internos: a resposta foi um convite a voltar ao coração da fé.
O sexto aniversário da eleição vê o Papa Francisco comprometido em um ano cheio de importantes viagens internacionais, marcado no início e no final, por dois eventos “sinodais”: o encontro para a proteção de menores realizado no Vaticano em fevereiro passado, com a participação dos presidentes das Conferências Episcopais de todo o mundo, e o Sínodo especial sobre a Amazônia, que será celebrado – também no Vaticano -, em outubro próximo. De notável impacto a recente viagem aos Emirados Árabes que viu o Bispo de Roma assinar uma Declaração conjunta com o Grande Imame de Al-Azhar. Um documento que se espera possa ter consequências no campo da liberdade religiosa. O tema ecumênico prevalecerá nas próximas viagens à Bulgária e depois à Romênia, enquanto a desejada, mas ainda não oficializada viagem ao Japão, poderá ajudar a recordar a devastação causada pelas armas nucleares, como advertência para o presente e para o futuro da humanidade que experimenta a “terceira guerra mundial em pedaços”, da qual o Papa fala frequentemente.
Mas um olhar ao ano apenas transcorrido não pode ignorar o ressurgimento do escândalo dos abusos e das divisões internas que levaram o ex-núncio Carlo Maria Viganò, em agosto passado, precisamente quando Francisco celebrava a Eucaristia com milhares de famílias em Dublin, repropondo a beleza e o valor do matrimônio cristão, a pedir publicamente a renúncia do Papa por causa da gestão do caso McCarrick. Diante dessas situações, o Bispo de Roma pediu a todos os fiéis do mundo que rezassem o Terço todos os dias, durante todo o sucessivo mês mariano de outubro de 2018, para unirem-se “em comunhão e penitência, como povo de Deus, pedindo à Santa Mãe de Deus e a São Miguel Arcanjo para protegerem a Igreja do diabo, que sempre visa nos separar de Deus e entre nós”. Tal pedido tão detalhado não tem precedentes na história recente da Igreja. Com suas palavras e o apelo ao povo de Deus para rezar para manter a unidade da Igreja, Francisco nos fez entender a gravidade da situação e ao mesmo tempo expressou a cristã consciência de que não existem remédios humanos capazes de assegurar um caminho de saída.
Mais uma vez, o Papa chamou ao essencial: a Igreja não é formada por super-heróis (nem mesmo por super-papas) e não avança com a força de seus recursos humanos ou estratégias. Sabe que o maligno está presente no mundo, que existe o pecado original, e que para nos salvarmos, precisamos da ajuda do Alto. Repeti-lo não significa diminuir as responsabilidades pessoais dos indivíduos e nem mesmo as das instituições, mas situá-las em seu real contexto.
“Com esta solicitação de intercessão” – estava escrito no comunicado vaticano com o pedido do Papa para a oração do Terço em outubro passado – “o Santo Padre pede aos fiéis de todo o mundo para rezar para que a Santa Mãe de Deus coloque a Igreja sob seu manto protetor: para preservá-la dos ataques do maligno, o grande acusador, e ao mesmo tempo torná-la cada vez mais consciente dos abusos e erros cometidos no presente e no passado”.
No presente e no passado, porque seria um erro “descarregar” sobre aqueles que vieram antes de nós as culpas e apresentar-nos como “puros”. Também hoje a Igreja deve pedir a Alguém para ser libertada do mal. Um dado de fato que o Papa, em continuidade com seus antecessores, recorda constantemente.
A Igreja não se redime sozinha dos males que a afligem. Também do horrível abismo dos abusos sexuais cometidos por clérigos e religiosos, não se sai em virtude de processos de autopurificação, muito menos confiando-se a quem se investiu no papel de purificador. Normas sempre mais eficazes, responsabilidade e transparência são necessárias, na verdade indispensáveis, mas nunca serão suficientes. Porque a Igreja, recorda-nos hoje o Papa Francisco, não é autossuficiente e testemunha o Evangelho a muitos homens e mulheres feridos do nosso tempo, precisamente porque também ela se reconhece como mendigo de cura, necessitando de misericórdia e de perdão do seu Senhor. Talvez nunca como no conturbado ano que passou, o sexto do seu pontificado, o Papa que se apresenta como “um pecador perdoado”, seguindo o ensinamento dos Padres da Igreja e de seu imediato predecessor Bento XVI, testemunhou este dado essencial, e mais do que nunca atual da fé cristã.
Fonte: Vatican News.