Desde outubro de 1717, quando o pescador Felipe Pedroso e seus familiares começaram a venerar em casa a Imagem de Aparecida, os romeiros estavam e estão ao lado da Virgem Aparecida, vindos de todos os recantos do Brasil e até do exterior. Eles aqui já chegaram de carro de boi, de trem e de caminhão, e hoje chegam de ônibus, de carro, de bicicleta, de moto, de charrete, a pé, a cavalo e de helicóptero; de geração em geração, príncipes, cientistas, literatos, presidentes e governadores, homens do campo e das cidades, padres, freiras, bispos, cardeais, Papas, autoridades, militares, artistas, atletas.
No livro Senhora Aparecida, da historiadora Teresa Pasin, é possível ver que foi em 9 de setembro de 1873 que aconteceu a primeira grande romaria a pé, vinda da vizinha cidade de Guaratinguetá (SP).
Em 1900 tiveram início as grandes romarias paroquiais e diocesanas, em companhia dos padres, dos bispos e dos cardeais. Em 8 de setembro daquele ano, Dom Antônio Cândido de Alvarenga, então bispo de São Paulo, trouxe 1.200 romeiros, que ofertaram à Nossa Senhora um rico estandarte.
Aos 16 de dezembro do mesmo ano, chegou do Rio de Janeiro uma grande romaria, conduzida pelo arcebispo dom Joaquim Arcoverde, acompanhado por um grande número de sacerdotes e de mais de 100 romeiros.
No dia 4 de setembro de 1921, em trem especial composto de cinco vagões, chegou a romaria de Belo Horizonte (MG), de onde vieram 200 romeiros e vários sacerdotes.
No JS de 24 de junho de 1922, encontra-se uma estatística de romeiros referente ao ano anterior: “Temos o belo número de 200 mil peregrinos por ano que visitam o Santuário de Nossa Senhora Aparecida”. Atualmente, esse mesmo número visita o Santuário em um único final de semana.
Até o ano de 1954, há registro, no III Livro do Tombo da Paróquia de Nossa Senhora Aparecida, da vinda dos romeiros por trem. Logo após, os romeiros passaram a vir, em sua grande maioria, de caminhão.
São muitas curiosidades, muitas memórias. Os romeiros partiam com saudades e a certeza de voltar novamente. Ainda, como recordação, tiravam fotos com os retratistas “lambe-lambes” na praça em frente ao caminhão e à Basílica Velha, testemunha de sua presença.
Hoje, a saudade ao retornar é a mesma, mas, em vez dos lambe-lambes, agora o modo mais usado para registrar as imagens são as fotos digitais e as “selfies”.
Os missionários redentoristas
Quando a Igreja se separou do Estado, em 1890, os bispos brasileiros procuraram auxílio na Europa para revitalizá-la. Dom Lino, bispo da época, mandou primeiro uma carta para o Vaticano e depois enviou um emissário para ter certeza de que seria atendido. Ele precisava, de maneira urgente, de padres missionários para trabalhar na pequena vila de Aparecida.
Os Missionários Redentoristas alemães chegaram em 1894. Foram acolhidos em festa na antiga estação ferroviária da cidade.
Desse momento em diante, os redentoristas assumem o cuidado pastoral, começaram a visitar a região, vilarejos e passaram a fazer um trabalho missionário dentro do santuário, atendendo os romeiros.
De acordo com Teresa Pasin, o trabalho dos missionários e a experiência no trabalho com Santuários foi fundamental para a organização, não só do Santuário de Aparecida, mas em toda a cidade. “Eles viram que tinha dado certo lá na Alemanha e fizeram aqui. Bendita hora desse encontro entre Nossa Senhora, seus romeiros e os missionários Redentoristas”, opina a historiadora.
O trabalho expandiu-se e, após dois anos, iniciam o trabalho das Missões Populares. Primeiramente nos arredores de Aparecida e, posteriormente, por todo o Brasil.
Em 1900, padre Gebardo Wiggermann, compra impressoras e maquinários para iniciar o Jornal Santuário d’ Apparecida. Com ele, nascia a Editora Santuário, para divulgar e propagar a Boa-Nova por meio da imprensa.
Em 1904, os bispos do Brasil, reunidos em Aparecida, organizaram e coroaram a imagem de Nossa Senhora. Padre Gebardo não perdeu tempo e fez publicar aquele que se tornou o primeiro livro das Oficinas Gráficas/Editora Santuário: o Manual do Devoto de Nossa Senhora Aparecida. O livro é publicado até os dias de hoje.
Em 1927 foi a vez de publicar o Almanaque de Nossa Senhora e Ecos Marianos. Na sequência, o trabalho missionário continua mostrando uma grande vocação para as comunicações com a fundação da Rádio Aparecida, em 1951 e, mais recentemente, em 2005, com a inauguração da TV Aparecida.
Nos últimos tempos, acompanhando a evolução tecnológica, os Redentoristas também iniciaram e mantêm o portal A12.com, que ajuda na comunicação e divulgação do Santuário. São eles, os redentoristas os grandes guardiães da Casa Da Mãe Aparecida e todas as obras de evangelização e bondade.
A festa do povo brasileiro: Memória e alegria
Histórias de fé e esperança se encontram no Santuário Nacional durante a festa da Padroeira do Brasil, em 12 de outubro. Vindas de todas as partes, diversas pessoas chegam a Aparecida (SP), seja de ônibus, de carro, de bicicleta ou até mesmo a pé, para pedir e agradecer a intercessão da Virgem Maria. São momentos de forte espiritualidade, para reviver novamente a devoção diante do milagre do encontro da Imagem nas águas do Paraíba do Sul.
Desde as primeiras horas da manhã, fiéis a postos já celebram a Rainha do Brasil na alvorada festiva. O nicho que abriga a Santa torna-se disputado. Muitos querem um momento mais íntimo diante de Maria. Durante todo o dia, as celebrações eucarísticas atraem milhares de romeiros que querem homenagear Nossa Senhora. Por fim, a procissão solene comove aos devotos que caminham da Basílica Velha até o Santuário Nacional.
Curiosidades
A festa da Padroeira do Brasil já foi celebrada em diversas outras datas, como no dia da Imaculada Conceição, no quinto domingo após a Páscoa; no primeiro domingo de maio, mês mariano, e no 7 de setembro. Contudo, em 1953, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) determinou que a festa fosse celebrada em 12 de outubro. A escolha foi feita em associação com o descobrimento da América e por coincidir também com o Dia das Crianças.
Por ocasião da visita do Papa João Paulo II ao Brasil, o então Presidente da República, General João Batista Figueiredo, promulgou a Lei n. 6.802, de 30 de junho de 1980, declarando feriado federal o dia 12 de outubro, para o culto público e oficial à Nossa Senhora Aparecida.
A imagem sofreu um atentado e foi quase destruída
A noite de 16 de maio de 1978 ficou marcada como um momento terrível da história. Nossa Senhora ficou quebrada e partida em milhares de pedaços; algumas partes reduzidas a pó.
O Almanaque de Nossa Senhora Aparecida do ano de 1979 apresentou duas páginas históricas narrando o acontecimento. “Eram 20 horas e 10 minutos do dia 16 de maio de 1978. No altar-mor da Basílica Nacional (que ainda era na igreja velha) estava acontecendo uma concelebração eucarística. E foi naquele momento que o jovem Rogério Marques de Oliveira, 19 anos, residente em São José dos Campos (SP), quebrou o vidro de proteção do nicho existente naquele altar e tentou apossar-se da Imagem de Nossa Senhora Aparecida. Na tentativa, deixou que a Imagem caísse ao chão.
Aquela estátua já havia passado anos no fundo das águas do Rio Paraíba do Sul, com a cabeça separada do corpo, havia sido encontrada por três pescadores e produzido uma pesca milagrosa, à semelhança da relatada pelos Evangelhos. Após tantas situações, ao longo de mais de dois séculos, a imagem milagrosa havia sido vítima de um homem atormentado, que a quebrou em centenas de pedaços”.
As pessoas que viram a imagem naquele estado não acreditavam que fosse possível reconstruí-la. Seria necessário um milagre? Entre essas pessoas, estava uma restauradora, alguém que conseguiu também fazer uma espécie de milagre com os cacos que restaram: Maria Helena Chartuni. “Quando tive diante de mim aquela imagem toda esfacelada em mais de duzentos pedaços, senti-me, por um momento, em pânico, diante de tal responsabilidade. Sabia que, se não desse conta do recado, seria um massacre moral e profissional”, afirma.
Maria Helena foi a responsável pela reconstrução da Imagem e enfrentou um dos seus maiores desafios: remontar, como a um quebra-cabeças, uma imagem estraçalhada. Mas não era uma estátua qualquer; tratava-se de um dos maiores símbolos da religiosidade católica do país, a imagem original de Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil.
Contudo, ela não demonstrou o medo que sentia e lançou-se no desafio. “Por temperamento, eu não desisto fácil e, apesar do medo, coloquei-me inteira para resolver a reconstrução da imagem. Isso depois de pedir ajuda e proteção a ela, que havia me dado tal tarefa. Eu só tinha um pensamento em mente: fazer o melhor que podia. E acho que deu certo. Só no final dos trabalhos me dei conta que recebi a força e a calma que me ajudaram a realizar o trabalho mais gratificante de minha vida”, recorda.
Mas, exatamente um ano após o atentado, ela foi procurada no Museu de Arte de São Paulo. Alguém havia pintado a Santa com uma tinta inadequada. “Fui a Aparecida e imediatamente comecei a remoção da camada de tinta. A cera que eu havia passado quando restaurei a imagem pela primeira vez impediu que aquela tinta fosse absorvida pela terracota”, recorda.
Apesar de ter conseguido o que, para alguns, parecida impossível, a restauradora revela que passou cerca de 10 anos sem contato com a imagem. “Parecia-me que meu trabalho com a imagem estava encerrado. Fui cuidar de minha vida. Mas, após vários anos, notei que a manutenção da Imagem estava sendo feita por pessoas não habilitadas para esse serviço. Tive receio de que acontecesse outro acidente, então me prontifiquei a dar assistência na manutenção da imagem enquanto pudesse”, revela.
Fonte: A12.