Para falarmos sobre o Domingo cristão é bom levar em consideração que estamos falando de algo que vai muito além de um dia da semana ou de um preceito que precisamos guardar. De fato, a riqueza que está por trás do que pode parecer uma simples missa de Domingo é enorme e, como disse o Papa João Paulo II: “Visto na totalidade dos seus significados e implicações, constitui, de algum modo, uma síntese da vida cristã e uma condição necessária para bem a viver”. É uma afirmação forte que vale a pena ser meditada e encarnada em nossa própria experiência de seguir o Senhor Jesus.
São João Maria Vianney, o cura de Ars, quando chegou à sua paróquia se deparou com uma realidade que o tocou profundamente. O dia do Senhor não era tido como tal, as pessoas trabalhavam e se esqueciam de prestar o culto devido. Ele tratou de combater isso de forma um tanto exigente, que inclusive pode assustar nos dias de hoje. Ele dizia: “Vós trabalhais, mas o que ganhais é a ruína para a vossa alma e para o vosso corpo. Se perguntássemos aos que trabalham nos domingos ‘que acabais de fazer? ’, bem poderiam responder: ‘Acabamos de vender a nossa alma ao demônio e de crucificar Nosso Senhor. Estamos no caminho do inferno’”.
O que ele diz pode chocar e talvez seja isso que as pessoas daquele local precisavam. Mas se pensamos bem, não será que as pessoas de hoje em dia precisam de uma provocação semelhante? É muito fácil “esquecer” do preceito porque existem muitas outras urgências ou imprevistos que comprometem a nossa participação na Eucaristia. Mas no fundo de qualquer motivo que nos distancie da Missa Dominical, salvo em caso de impossibilidade de atender à mesma, parece estar o escurecimento da consciência de que não existe maior tesouro no mundo que estar ali presente, de joelhos, frente ao Mistério do amor de Deus que se entrega por nós em Jesus.
Não é o caso aqui de ficar apontando dedos dizendo que tal pessoa está pecando gravemente se é que falta esse compromisso. Certamente é uma falta grave, o Catecismo mesmo o diz, mas parece mais triste ainda que a pessoa não se dê conta realmente da imensa graça da qual deixa de participar. São João Paulo II continua comentando: “Se o domingo é o dia da ressurreição, ele não se reduz à recordação de um acontecimento passado: é a celebração da presença viva do Ressuscitado no meio de nós”. O que pode ser maior que estar diante do Ressuscitado?
Muitas são as dificuldades nos dias de hoje que podem nos afastar da participação dessa Alegria semanal. E a Igreja, sabendo disso, procura sair ao encontro, por exemplo, com a possibilidade da celebração no sábado à tarde, Vésperas do Domingo, que na tradição judaica já era o dia seguinte. Mas muitas vezes somos nós que colocamos as dificuldades ou não antecipamos uma certa dificuldade futura. Em viagens, por exemplo, podemos averiguar missas no local onde vamos estar. E é uma experiência muito bonita participar da celebração em outros lugares porque entendemos melhor que a mensagem de Jesus é Universal.
Mas tudo precisa estar fundamentado no amor. Se não, toda e qualquer norma parece uma imposição, que longe de acrescentar algo, tira a nossa liberdade. Infelizmente é isso que a Missa pode acabar sendo para alguns. E por isso São João Paulo segundo nos alenta: “tal observância, antes ainda de ser sentida como preceito, deve ser vista como uma exigência inscrita profundamente na existência cristã. É de importância verdadeiramente capital que cada fiel se convença de que não pode viver a sua fé, na plena participação da vida da comunidade cristã, sem tomar parte regularmente na assembleia eucarística dominical. Se se realiza na Eucaristia aquela plenitude de culto que os homens devem a Deus e que não tem comparação com qualquer outra experiência religiosa”.
Ir. João Antônio Johas Leão
Fonte: A12