Há um grupo que é particularmente incômodo para o Estado Islâmico: os coptas. Os dois vídeos de execuções na Líbia mostram a morte de coptas: primeiro, os coptas egípcios em fevereiro, e agora os coptas etíopes em abril.
Os coptas são uma pequena minoria cristã no Oriente Médio. São mártires: morrem pela sua fé. Eles tradicionalmente desenham uma cruz em seu pulso. Eles são um exemplo de como, nos países de maioria muçulmana, é possível que cristãos e muçulmanos vivam lado a lado. É por isso que o Estado Islâmico quer matá-los. Eles são um problema.
Aleteia entrevistou Fernando de Haro, professor da Universidade Francisco de Vitoria, em Madri, escritor e jornalista. Ele estudou a atual vida dos coptas no Egito; ele até viveu com eles. O fruto desta experiência é o seu livro Copts: A Journey to Meet the Martyrs of Egypt (Encuentro Publishers).
– Que motivação pessoal levou você a estudar e documentar os coptas no Egito?
Eu estive no Egito no final dos anos 80 com um grupo de amigos. Nós viajamos o país de norte a sul por um mês. Fizemos muitos amigos entre os coptas (cristãos egípcios). Acompanhados por alguns estudantes do colégio jesuíta no Cairo e por alguns jovens profissionais, mergulhamos num mundo pouco conhecido. Em longas viagens, durante jantares que duravam até o amanhecer, durante visitas a mosteiros, a casas dos ricos e dos pobres, tivemos a oportunidade de participar, de alguma forma, da vida dos coptas.
Aqueles cristãos, que usam a linguagem dos faraós numa liturgia antiga dos primeiros séculos do cristianismo, nos fascinaram, a nós que somos filhos do racionalismo europeu.
O que nos chateou é que eles nos viam como viajantes cheios de romantismo, utilizando as férias para participar de um turismo oriental superficial. Tínhamos um objetivo diferente. Queríamos estar com as pessoas. E o fato de que um senso de mistério – algo que tantas vezes nos foi negado – se desdobrou diante de nossos olhos tão ricamente, nos fez amar o Egito.
Em 2011, houve um grande ataque contra uma das igrejas em Alexandria, pouco depois Mubarak foi forçado a sair do poder. E eu queria voltar, fazer um relatório detalhado, responder às perguntas que me afligiam: os coptas ainda estariam lá? Ficou claro que eles estavam, porque as notícias falaram sobre eles – sobre dezenas de mortes e ataques; sobre seus sofrimentos, seus protestos e sua mudança de patriarca. Mas eles continuariam a existir como um povo religioso dentro da nação egípcia? E o que eu encontrei é que as pessoas morrem por seus ideais.
– Os coptas são uma das minorias mais ameaçadas e pobres. Por quê?
Existem coptas pobres e coptas ricos. A maioria é pobre, e alguns são muito pobres. Até os anos 70, eles viviam como as minorias cristãs costumam fazer em países com uma maioria muçulmana: com liberdade limitada, mas com liberdade.
Mas, a partir dos anos 70, uma importante mudança acontece. Sadat precisa chegar aos setores mais islamitas da sociedade – islamistas, não islâmicos – e começa a discriminar os coptas de forma mais sistemática. Neste período, vemos os primeiros ataques contra igrejas.
Os cristãos fizeram parte do projeto de construção da nação egípcia. Participam muito claramente no processo de independência e no desenvolvimento do Egito moderno. Mas, nas últimas três décadas do século passado, eles começam a perder seus direitos. Juntamente com a proximidade crescente do regime com o islamismo, outro fenômeno econômico ocorre. Os egípcios migram para os países do Golfo e, quando regressam, trazem consigo uma espécie de comportamento discriminatório contrário à tradição egípcia. E a situação não melhora com Mubarak…
Durante o governo de Mubarak, a situação piora. No início, Mubarak não é especialmente duro com eles, embora ele não lhes permitia construir ou reparar suas igrejas. Mas, no final, Mubarak é perverso, porque ele chega a um acordo tácito com a Irmandade Muçulmana, que naquela época vinha crescendo significativamente. Este pacto consiste em permitir que a Irmandade Muçulmana ataque os cristãos com quase absoluta impunidade.
Em 2011, durante a primeira revolução, na praça Tahrir e por um breve período de tempo, muçulmanos e cristãos estão juntos novamente. Mas a Irmandade Muçulmana toma o controle da revolução e volta a atacar os coptas. Até que a Irmandade Muçulmana seja removida do poder pelo povo em junho de 2013, os coptas são duramente atacados. Atacados pela Irmandade Muçulmana enquanto eles estão no poder, atacados pela Irmandade Muçulmana quando eles são a oposição. Desde que Al Sisi se tornou presidente, as coisas ficaram um pouco melhores.
– Egito é o único país, além da Terra Santa, por onde Jesus andou. Como os coptas experimentam essa presença?
A devoção à Sagrada Família está presente em todos os lugares. Certamente, não só porque a Sagrada Família visitou essas terras, mas porque os coptas foram exilados em seu próprio país por séculos.
A cultura copta criou histórias que não têm pretensões de historicidade, e que ainda hoje se repetem. Eles pertencem a um gênero muito oriental. São histórias deliciosas que enfatizam a importância dos eventos que eles relacionam com a vida de Maria, José e Jesus.
Uma dessas histórias do século 7 relata que quando a Sagrada Família parou ao longo da estrada, e Maria queria comer algumas tâmaras que ela não conseguia alcançar, o Menino Jesus ordenou que a tamareira dobrasse. Os anjos pegaram um ramo daquela tamareira para plantá-la no paraíso. A árvore que cresceu desse corte é a que todos os santos veem primeiro quando entram no céu.
As primeiras conversões devem ter ocorrido quando a Sagrada Família passou por lá, como Klum e Sara, que lhes deram refúgio; ou Tito, um bandido inescrupuloso que a tradição egípcia identifica como o Bom Ladrão. Maria, José e o Menino Jesus são acompanhados na viagem pela mulher que foi a parteira da Virgem: Salomé.
Coptas: A palavra vem da palavra grega “Aigyptos”. Eles são um grupo de cristãos originários do Egito. Eles constituem cerca de 10% da população egípcia. A maioria pertence à Igreja Ortodoxa Copta de Alexandria e à Igreja Católica Copta. Eles estão sub-representados no governo. Eles procuram manter boas relações com as autoridades e sempre falam sobre a oração pela paz, coexistência pacífica e diálogo inter-religioso.