É muito importante dar uma palavra sobre a Campanha da Fraternidade na Igreja no Brasil, assumida pela nossa CNBB: Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Ultimamente recebeu algumas críticas por alguns segmentos da sociedade e de pessoas ligadas à Igreja, mas nós devemos valorizar sempre mais a Campanha da Fraternidade (CF) como forma de atuação na vida eclesial e social por parte da Igreja, pois somos discípulas, discípulos, missionárias, missionários do Senhor Jesus. O Senhor nos convoca a agir em favor dos pobres da sociedade e de nossas comunidades. Desde a década de 60, no século XX, ela é dada, sobretudo no período da quaresma como forma de preparação à Páscoa, mas também em todo o ano e períodos sucessivos, sendo um norteamento das atividades eclesiais, sociais de todos os cristãos batizados e batizadas, porque a quaresma é um tempo de conversão para o Senhor e aos outros, de jejum, de oração e de esmola, caridade para com os mais necessitados e pobres. Se observássemos os seus objetivos referem-se ao despertar o espírito comunitário e cristão do povo de Deus, em busca do bem comum, educar para a vida da fraternidade, impulsionados pela justiça e pelo amor, que é a exigência central do evangelho; e por fim renovar a consciência da responsabilidade de todos pela ação da Igreja na evangelização, na promoção humana tendo em vista uma sociedade justa e solidária. Uma análise também é fundamental que seja feita pelos seus temas desde o inicio, 1964 que tratou da Igreja em renovação, até hoje, que é a superação da violência. Na primeira fase visou-se mais a renovação interna da Igreja, temas que foram até 1972, onde se aprofundou o tema do serviço e da vocação. Enumera-se uma segunda fase que tratou da preocupação da Igreja com a realidade social do povo, denunciando o pecado social e a promoção da justiça e da fraternidade. Este período foi até 1984, cujo tema naquele ano foi Fraternidade e vida. Mas temos uma terceira fase, onde a CF como Igreja voltou-se e volta-se até o momento atual, para situação existencial do povo brasileiro, como a fome, a terra, o menor, o negro, a mulher, o mundo do trabalho, a política, os encarcerados, pessoas com deficiência, a juventude, a saúde, o tráfico humano, os biomas, entre outros temas e em 2018, a CF volta-se para a superação da violência. Tivemos também algumas CFs por parte da Igreja católica com a participação das Igrejas do CONIC: Conselho Nacional de Igrejas cristãs, na qual se chamou de CFE: Campanha da Fraternidade Ecumênica.
Vemos que a CF é importante porque une a Igreja em todo o país, de um canto a outro, tendo um tema que unifica, que valoriza a vida do povo, que procura ler a realidade, decifrá-la a partir da Palavra de Deus e do Magistério, que aponta ações para todas as pessoas, e tudo isso está em comunhão com o Senhor Jesus através de sua Igreja, onde se reflete um tema, os cantos são os mesmos, e a necessidade de trabalhar aquele tema que possibilita vida, fraternidade, transformação pessoal, comunitária e social em nós, no Pais, e no mundo. Temos a coleta no domingo de ramos que possibilitará ações sobretudo com os mais necessitados. Assim a CF deve ser assumida sempre mais pelas lideranças, pastorais, movimentos, serviços, ceb´s, clero, religiosas, e religiosos, o povo de Deus e pessoas de boa vontade, para que assim a nossa vida espelhe sempre mais o amor misericordioso de Deus no mundo de hoje. Neste ano a CF tem presente a superação da violência que é uma questão social seja para as autoridades políticas, mas também de todos nós. A violência perpassa os níveis da sociedade, de modo que somos chamados a cultivar uma cultura de paz. Jesus Cristo perdoou aqueles que o insultavam na cruz, e toda a sua vida foi de paz, de amor, denunciando as práticas de violência que as autoridades de seu tempo impunham sobre o povo, sobretudo os pobres. Assim como a CF deste ano, como as anteriores levam em conta a realidade comunitária, social, e a necessidade de agir para o bem de todas as pessoas, porque a palavra de Cristo, a partir do evangelho e da doutrina social da Igreja, não nos permitem para ficarmos parados, omissos, pois o Espírito Santo ilumina a vida da Igreja para que sejamos sal da terra e luz do mundo (cfr. Mt 5,13-14), assim como pede o Senhor Jesus Cristo. A CF seja assumida e valorizada neste período quaresmal, de conversão, de vida com o Senhor para que assim nos preparemos bem para a Páscoa do Senhor, o seu mistério da paixão, morte e ressurreição, dado para nós e para o mundo.
Dom Vital Corbellini – Bispo de Marabá (PA)
Fonte: CNBB