Dentro de pouco tempo, entraremos na caminhada para a festa da Páscoa, ponto culminante de todo o ano litúrgico. Não se trata de uma mera repetição daquilo que fazemos todos os anos. O cristianismo não é uma religião na qual caminhamos num círculo fechado. Voltamos, sim, aos mesmos acontecimentos salvíficos, mas caminhamos numa espiral que nos conduz sempre mais para a frente e para o alto na direção do abraço infinito do Pai, pelo Filho, no Espírito Santo.
A Igreja crê, firmemente, que a celebração dos mistérios da salvação não apenas recorda, mas faz presentes as ações de Deus em favor da humanidade. Assim, a Páscoa é a presença do amor supremo de Deus no dom que Jesus faz de sua vida para o resgate de todos. Páscoa é celebração da morte, ressurreição e glorificação de Jesus. É presença eficaz de sua vitória sobre o pecado e a morte. Mas Páscoa é, também, nossa participação na vitória de Cristo através do Batismo. Neste sacramento nós morremos com Jesus para o pecado e ressurgimos com ele para uma vida nova na graça de Deus, no amor. A Igreja crê que a eficácia dos sacramentos reside no poder de Deus que se manifestou vitorioso na ressurreição de Jesus e no dom do Espírito Santo que nela permanece sempre. Sem esta iniciativa e atuação da graça de Deus, os sacramentos não teriam poder de realizar o que eles significam. Por outro lado, a Igreja está convicta da necessidade da participação ativa de quem recebe os sacramentos para que eles produzam os frutos desejados por Deus na pessoa, na comunidade e na sociedade.
Esta é a razão pela qual a celebração da Páscoa é preparada pelo longo período da quaresma. Este não é um tempo de tristeza. É um período de preparação espiritual intenso: recolhimento, despojamento do supérfluo e valorização do essencial, escuta e meditação da Palavra de Deus, oração, esforço de conversão, tudo para predispor os discípulos de Jesus a receber o dom de Deus. A transformação radical de nossa vida é fruto do encontro da iniciativa de Deus com a resposta do ser humano.
Em toda a caminhada quaresmal, as comunidades eclesiais acompanham solidariamente os catecúmenos – jovens e adultos – que se preparam para receber os sacramentos da iniciação cristã na vigília pascal e, ao mesmo tempo, empenha-se para aprofundar sua adesão a Jesus na Igreja através da renovação das promessas batismais.
A vigília pascal é a celebração mais importante do ano litúrgico. Ela é toda impregnada de clima batismal. É o encontro mais apropriado para a administração dos sacramentos pascais: Batismo, Crisma e Eucaristia.
Na dinâmica da quaresma deste ano seremos convidados a fazer a escolha de Deus e seu projeto vencendo com Jesus as tentações (1º Domingo), a subir com ele ao monte e contemplar antecipadamente seu ser interior na transfiguração (2º Domingo), a acolhê-lo como água viva (3º Domingo), a aceitá-lo como a verdadeira luz (4º Domingo) e como garantia de ressurreição e vida plena (5º Domingo).
A dinâmica da quaresma nos convida a contrariar a sabedoria do mundo que nos propõe a busca de segurança, de satisfação de desejos egoístas, de realização individualista e nos desafia a entrar no esforço de ser para Deus e para o próximo, a fazer de nossa vida uma oblação de amor, a almejar a autotranscendência. Assim viveremos um verdadeiro movimento pascal e a vida será beneficiada, pois quanto mais perto de Deus estivermos mais próximos, também, dos irmãos nós estaremos. Desde já, a todos e todas desejo “Feliz Páscoa”, com a certeza de que “é para a liberdade que Cristo nos libertou” (Gálatas 5,1). Vivamos nosso Batismo, fonte de todas as vocações!
Dom Luiz Antônio Guedes
Bispo de Campo Limpo – SP
Páscoa de 2014