Acontece com todo mundo: às vezes, a oração vira rotina ou fica estancada em nosso interior, como um lago pantanoso, um lugar do qual não conseguimos sair e que não nos oferece nada de vida…
Mas eu gostaria de compartilhar com vocês algumas ideias que me ajudaram a ter uma oração mais profunda e melhor. Algumas descobertas que revolucionaram a minha forma de rezar.
Primeira coisa: oração é fonte de vida. Uma fonte que não tem motivo para ficar estancada. E por que afirmo isso?
Porque a oração é um dom do Espírito. Rezamos não porque sabemos rezar ou porque temos técnicas boas de oração. Rezamos porque permitimos que o Espírito que vive em nós brote, tome consciência e se expresse.
Rezar é perceber nossa realidade mais profunda, o ponto preciso do nosso ser, pelo qual chegamos até Deus, O tocamos e onde recebemos um Deus que nos quer oferecer algo.
É uma tomada de consciência. Rezar implica fazer-se consciente de uma coisa que há muito tempo ficou inconsciente em nós. O lado divino que se torna consciente quer integrar-se à nossa vida.
E esse espaço de liberdade interior fica entre a regra e a liberdade: entre as orações que fazemos habitualmente e a presença de Deus. Neste sentido, se conhecermos nossa “fisionomia espiritual”, vai ajudar bastante. Romano Guardini disse:
“A oração pessoal está submetida a determinadas normas. Tais normas estão expressas na mesma doutrina revelada, tal como na Sagrada Escritura, nas regras práticas que a experiência cristã formulou ao longo de seis séculos e nos conselhos da razão e da sabedoria humana que são válidos para toda a atividade espiritual e, portanto, para a oração.
Apesar de tudo isso, a oração pessoal é fundamentalmente livre e a ordem só deve servir aqui para proteger essa liberdade. Quanto mais autêntica é a oração pessoal, menos podem ser ditadas normas sobre ela.
Mas a oração deve brotar e desenvolver segundo o estado interior de cada pessoa, segundo as circunstâncias em que ela vive e segundo as suas experiências.
Portanto, uma oração que em determinado período era aconselhável pode não ser em outro; assim como a mesma oração pode não ser apropriada para pessoas diferentes. Quando a oração não alcançou sua própria liberdade, ela se faz insegura, monótona e carente de vida. Daí a necessidade de educar a vida de oração para que ela seja espontânea e se apoie na interioridade pessoal do homem”.
Então, para crescer na vida de oração não é necessário ter excelentes técnicas ou ler grandes livros de mestres espirituais.
Trata-se, sobretudo, de aprender a ter uma oração cada vez mais autêntica, de proteger nosso espaço de liberdade interior para o encontro com Deus.
E como conseguimos fazer isso? Abrindo nosso coração para a liberdade de Deus. A oração é um cenário do encontro em que Deus se dá pra mim e eu o recebo.
Por isso, vale a pena se perguntar: “minha oração é um momento de busca a Deus ou de busca a mim mesma? Eu estou aberta para receber Deus toda vez que rezo?”
Neste caminho para encontrar nosso espaço de liberdade, podemos começar pela oração vocal ou pela mental. O importante é que a oração seja capaz de nos fazer meditar.
Depois, podemos fazer com que nossa oração seja recitada, cada vez mais, de dentro do coração. Uma oração que busque sua fonte e sua raiz no fundo do nosso ser, além do nosso espírito, de nossa vontade, de nossos afetos e das técnicas.
Através da oração que vem do coração, buscamos Deus ou as energias do Espírito nas profundezas de nosso ser. Deste modo, começaremos a contemplar.
E quando for difícil perseverar, quando você estiver em ponto morto, lembre que a oração é um dom. Não se desespere. Abra-se à graça e disponha-se para que algo aconteça.
Com certeza, esse ponto morto supõe uma sensação de deserto. E é precisamente no deserto que se tem sede.
Esse deserto nos obriga a buscar a fonte, aquela que está dentro de nós e que tinha um monte de pedras que não deixava a água escorrer.
Deixar-se levar pela água corrente da fonte, que é o Espírito Santo, fará que o impulso interior Dele brote em nós e nos arraste para a frente.
Fonte: Aleteia.