Para responder a esta dúvida é necessário entender primeiro o que é o inferno. É frequente as pessoas imaginarem o inferno como uma condenação dada por Deus, enviando o pecador para ser atormentado por demônios com chifres, em meio a um incêndio de chamas e enxofre.
Esta visão passa a idéia de um Deus vingativo, que paga olho por olho, dente por dente. Seria também como se Deus dissesse: “Se você não se comportar, eu te pego, cuidado.”. Muitos não acreditam na existência do inferno, justamente porque esta visão é contrária com a noção de Deus rico em misericórdia.
O inferno não foi criado por Deus, e sim pelo mau uso da liberdade pelo homem, influenciado pelo demônio. No livro da Sabedoria 2,24 lemos: “Foi por inveja do demônio que a morte entrou no mundo, e os que pertencem ao demônio proval-la-ão.” (cf. Jó 1,6; Gn 3,1; Sl 72,9).Na verdade, o inferno não é mais do que a consequência lógica de um ato que o homem realiza de maneira consciente e deliberada aqui na terra.
É a pessoa quem se coloca no inferno (este vem a ser primariamente um estado de alma; e não algum lugar). Deste modo, não é Deus quem, por efeito de um decreto condena o homem. Jesus, no diálogo com Nicodemos, dá esta certeza ao afirmar em Jo 3,17-18 “Deus não enviou o Filho ao mundo para condená-lo, mas para que o mundo seja salvo por ele. Quem nele crê não é condenado, mas quem não crê já está condenado; por que não crê no nome do Filho único de Deus.”
A nossa vida terrena é o dom-presente recebido gratuitamente de Deus para que possamos amá-lo, louvá-lo e servi-lo. A verdadeira felicidade somente é encontrada pelo homem através desta união com Deus. O homem tem a liberdade para escolher entre o caminho do bem e do mal. O mau uso desta liberdade se chama pecado.
Alguns poderiam questionar: por que Deus não muda esta tendência para o mal presente no coração dos homens? Para fazer tal coisa estaria forçando ou violentando livre vontade da pessoa. Esta não é a maneira de Deus agir, em Apc 3,20 lemos: “Eis que estou à porta e bato: se alguém ouvir a minha voz e me abrir a porta, entrarei em sua casa e cearemos, eu com ele e ele comigo.”. Deus não quer robôs e sim filhos que escolheram livremente estar junto Dele.
Uma das mais belas descrições da misericórdia divina é apresentada na parábola do filho pródigo (cf. Lc 15,11-32). A grande lição desta passagem bíblica é a certeza de que não existe pecado sem perdão nesta vida. A condição para recebê-lo é um coração cheio de sincero arrependimento, que se aproxima de Deus, e pede como o filho pródigo em Lc 15,21: “Meu pai, pequei contra o céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho.” Foi justamente o fato de se ter reconhecido indigno que mereceu ser perdoado com profundo amor!
O sofrimento ou tormento do inferno consiste na consciência de estar para sempre afastado da verdadeira felicidade de Deus, de algum modo, rejeitada na vida terrena. A melhor das propagandas do demônio esta em apresentar as falsas alegrias do mundo como sendo a melhor das escolhas. O homem iludido pela ideia de não necessitar de Deus, se afasta da luz para andar nas trevas do pecado.
Padre Alberto Gambarini
Padre Alberto, a sua bençaõ. Muito obrigado por esse ensinamento que vem clarear nossas idéias a respeito desse assunto. Seria ótimo também que o Senhor falasse sobre o purgatório, porque muita gente acha que a pessoa morreu e fica aguardando o juizo final, e muitos também não acreditam que exista o purgatório. Que Deus o abençoe para que tenha cada vez mais sabdoria e nos ajude a conhecer melhor as coisas de Deus.Um abraço.