“Este é o tempo da misericórdia”: é o que reafirma o Papa Francisco na sua Carta Apostólica “Misericórdia e mísera”, publicada no início desta semana por ocasião da conclusão do Jubileu. Além de uma ampla reflexão sobre a misericórdia, o Papa neste texto apresenta quatro principais novidades: todos os sacerdotes terão de agora em diante, até segunda ordem, a faculdade de absolver quem se manchou com o pecado do aborto; os Missionários da Misericórdia prosseguirão assim o seu ministério; os fiéis que frequentam a Fraternidade São Pio X poderão continuar a receber validamente a absolvição sacramental; e enfim, a instituição do Dia Mundial dos pobres.
“Como desejo que os anos futuros sejam cheios de misericórdia, para que cada pessoa encontre a bondade e a ternura de Deus”!, escreveu Francisco nos dias passados no seu tweet.
Após a sua publicação, a Carta Apostólica do Papa continua a suscitar comentários e certamente entre as novidades mais debatidas está a faculdade concedida a todos os sacerdotes de absolver o pecado do aborto. Mas o que chamou a atenção nesta semana foi a deformação, a má informação, o uso errado de alguns meios de comunicação sobre o que escreveu o Pontífice.
Sim porque os meios de comunicação, e não foram poucos, não prestaram um correto serviço de informação, como se o Papa tivesse banalizado ou desclassificado o aborto como pecado grave. E isso é verdade exatamente ao contrário: – como disse nos dias passados bispo italiano Dom Paglia -, precisamente porque concede o perdão significa um diálogo, uma consciência, uma decisão de não repetir mais aquilo que fez. E neste sentido, ampliar aos sacerdotes uma faculdade que antes era somente dos bispos, quer dizer dar maior possibilidade a quem realizou este gesto terrível de compreender a gravidade daquilo que fez e, portanto, de poder mudar de vida, e não fazer mais.
Neste sentido o Papa Francisco – como sabemos muito bem, consciente da gravidade -, quer oferecer o modo melhor para impedir que este ato se repita. Certamente, ter uma maior possibilidade de aceder a um remédio mais forte, ajuda quem é fraco a não cair. Portanto, precisamente porque é um ato muito grave é necessário uma extraordinária concessão da Misericórdia.
Como reafirmou também Dom Fisichella, responsável pela organização do Jubileu, o aborto é um pecado grave porque põe fim a uma vida inocente. Com a mesma força afirmou que não existe nenhum pecado que a misericórdia não possa alcançar e destruir quando encontra um coração arrependido que procura reconciliar-se com Deus. “Então, não há nenhuma forma de laxismo”. Há, sim, uma forma com a qual a pessoa é consciente da gravidade do pecado, mas se arrependeu e quer se reconciliar com o Senhor.
O coração do documento é dar novamente força de mudança à Misericórdia. E a Misericórdia já não é uma palavra abstrata: na realidade, é a força de Deus que muda a história dos homens, afirma Francisco. Por isso, o Papa exorta a acolhê-la e a distribui-la a todos, porque quem a acolhe não fica indiferente, não permanece igual ao que era antes.
O Santo Padre no seu texto sublinha que nenhum pecado é tão grande que possa criar um obstáculo que impeça receber o abraço do Pai e, portanto, o perdão. Em síntese, afirma que todo o pecado é repleto de morte, mas também é verdade que a misericórdia, que é encharcada de graça, é mais forte de cada pecado.
O valor de redenção do Ano da Misericórdia é dar a todos a possibilidade de mudar. Francisco ainda relançou o tema da Palavra. A âncora da Palavra, o Dia da Palavra, que cada diocese deverá escolher o seu dia, junto com o Dia dos Pobres. Serão 24 horas para o Senhor e gestos de misericórdia que cada sacerdote poderá fazer, repletos de graça e de benção.
Celebramos um Ano intenso – escreveu Francisco na sua Carta Apostólica -, durante o qual nos foi dada em abundância a graça da misericórdia. “Como um vento impetuoso e saudável, a bondade e misericórdia do Senhor se derramaram sobre o mundo inteiro”. Agora é necessário prosseguir nesta estrada que indica sempre novas trilhas a serem percorridas para levar a todos o Evangelho que salva.
“É o momento – acrescenta o Papa – de dar espaço à fantasia da misericórdia”, que através da simplicidade de pequenos gestos cotidianos, sinais concretos de bondade e ternura dirigidos aos mais pequenos e indefesos, a quem vive sozinho e abandonado, pode “dar vida a uma verdadeira revolução cultural” em todo o mundo.
“Ninguém de nós pode colocar condições à misericórdia; ela é sempre um ato de gratuidade do Pai, um amor incondicional e imerecido. Portanto, não podemos correr o perigo de nos opormos à plena liberdade do amor com o qual Deus entra na vida de cada pessoa”.
A misericórdia é a ação concreta do amor que, perdoando, transforma e muda a vida. Um convite a você para que leia e aprofunde esse texto do Papa para viver plenamente a misericórdia. (Silvonei José)
Fonte: Rádio Vaticano