Esquecer ou Perdoar?

Esquecer e perdoar será a mesma coisa? O perdão implica o esquecimento? Existem muitas ofensas impossíveis de esquecer. Não se pode pedir às vítimas de um atentado ou aos pais cujo filho foi assassinado que se esqueçam do mal que lhes fizeram, e de quem foi o seu autor. É normal – e saudável – que eles se lem­brem daquilo que viveram, e até que reivindiquem o direito de não deixarem cair no esquecimento os acontecimentos de que foram vítimas. Em certos casos, fala-se até do «dever da memória». Porventura isso significa que há ofensas que não se devem perdoar?

Esquecer a ofensa sofrida não depende de nós. Nós não po­demos decidir apagar aquilo que queremos, quando quere­mos. Todos nós temos essa experiência: há muitas feridas, gra­ves ou ligeiras, que gostaríamos de esquecer mas que, no en­tanto, continuam bem presentes na nossa memória. E quando temos o verdadeiro desejo de perdoar àqueles que nos feriram, essa incapacidade de esquecer perturba-nos ou surpreende- -nos: «Se eu não esqueci, é porque não perdoei.» Então? Sere­mos porventura incapazes de perdoar de verdade, se a nossa memória se recusa a passar uma esponja sobre o ocorrido?

«A ressurreição não é o esquecimento da paixão», disse certo dia o cardeal Lustiger, arcebispo emérito de Paris, França. De igual modo, o perdão também não é o esquecimento da ofensa. Muitos pensam que a recor­dação da ofensa sofrida, ao voltar de novo à memória, é sinal de falta de perdão. Contudo, não é possível esquecer um acontecimento que nos fez mal. A recordação provém da memória e o perdão da vontade profunda. O sinal de que o perdão está realmente vivo em nós, de que foi plenamente concedido e recebido, é que a recordação continua presente, mas já não nos destrói, já não nos impede de viver.

Para perdoar, é preciso recordar: o ato do perdão não consiste em negar a ferida, mantendo-a bem oculta. Pelo contrário, o caminho do perdão é, primeiro que tudo, um caminho interior, um caminho espiritual. E somente entra neste caminho quem esta disposto a reconhecer sua incapacidade para perdoar, e vai até Jesus. Quem perdoa não se tornará sempre amigo de quem o ofendeu. E até acontecerão situações onde o ofensor continuará com suas maldades. Perdoar também não significa que aquele que praticou um ato injusto não tenha que assumir perante a lei a gravidade do seu erro. Porém, se o perdão não é maior do que o mal cometido, ainda não experimentamos a grandeza da misericórdia divina. Jesus nos diz: “amai vossos inimigos, fazei o bem aos que vos odeiam, orai pelos que vos maltratam e perseguem.”(Mt 5,44).

O perdão ajuda a memória a ser curada, fazendo-a sair da amargura e reencontrar a paz. O perdão é uma ressurreição, uma passagem da morte para a vida. Jesus ressuscitado nos torna capazes dessa passagem, Ele que nos ensinou a perdoar “Setenta vezes sete.” (Mt 18,22). O perdão devolve-nos a presença de Jesus, restaura a família, amizades, trabalho, Igreja. Se nos dizemos cristãos e não sabemos perdoar, não vivemos a obra de Jesus na cruz. Perdoar dói, mas ao mesmo tempo cura e liberta.

Oração de Perdão

Jesus misericordioso, que do Teu coração aberto
fazes jorrar as chamas do Teu infinito amor,
Ensina-me, Senhor, a aceitar os outros como Tu me aceitas,
respeitando-os como Tu me respeitas
e suportando-os com paciência,
com Tu me suportas com paciência infinita.
Ajuda-me, Senhor, a perdoar como Tu me perdoas
e a fazer pelos outros todo o bem que fazes por mim.
Senhor, Tu que me aceitas como eu sou,
ajuda-me a ser o que Tu queres que eu seja,
Tua semelhança no amor.
Transforma o meu coração para que ele seja bom,
justo, manso, paciente, compreensivo,
generoso, tolerante e cheio de misericórdia,
para que através do meu amor humano, semelhante ao teu,
eu possa levar ao meu irmão a alegria,
a paz, o consolo, a esperança,
o perdão e a salvação do Teu amor Divino. Amém!

Padre Alberto Gambarini