Papa deu continuidade às catequeses sobre a família na Audiência geral desta quarta-feira (19/8). Uma semana após falar sobre o sentido cristão da festa em família, o Papa agora refletiu sobre um “elemento complementar” desta: o trabalho.
Ao afirmar que o trabalho é necessário para proporcionar uma vida digna à família, o Pontífice recordou que a “família educa ao trabalho com o exemplo dos pais: o pai e a mãe que trabalham para o bem da família e da sociedade”. E acrescentou: “O trabalho, nas suas mil formas, a partir daquele doméstico, também zela pelo bem comum”.
Neste contexto, Francisco lembrou que a Sagrada Família de Nazaré é o exemplo primeiro de uma família de trabalhadores, na qual o “próprio Jesus é chamado ‘filho do carpinteiro’”.
Alertando para o falso espiritualismo já advertido por São Paulo àqueles que “vivem às custas dos irmãos e irmãs ‘sem fazer nada’”, o Papa destacou que o “compromisso do trabalho e da vida do espírito, na concepção cristã, não estão em contraste entre si”.
“É importante entender bem isto! Oração e trabalho podem e devem estar juntos em harmonia, como nos ensina São Bento. A falta de trabalho danifica também o espírito, como a falta de oração danifica também a atividade prática”, ponderou o Papa.
Responsabilidade humana e social
O trabalho – reafirmou Francisco – é inerente à pessoa humana e expressa a sua dignidade de ser criada à imagem de Deus. “Por isso, se diz que o trabalho é sagrado. E, por isso, a gestão da ocupação é uma grande responsabilidade humana e social, que não pode ser deixada nas mãos de poucos ou descarregada sobre um ‘mercado’ divinizado”. E arrebatou: “Provocar a perda de postos de trabalho significa causar um grave dano social”.
Dignidade do trabalho
De improviso, Francisco lamentou: “Fico triste quando vejo que não há trabalho. Que há pessoas sem trabalho, que não encontram trabalho e que não têm a dignidade de levar o pão para casa”. Todavia, acrescentou: “Fico feliz quando vejo que os governantes se esforçam para criar postos de trabalho. O trabalho é sagrado e dignifica a família”.
Ao citar a passagem do Gênesis no qual Deus confia ao homem o cuidado e o trabalho na “casa-jardim”, o Papa retomou algumas ideias apresentadas por ele na Encíclica Laudato si, dentre as quais aquela em que afirma que “a beleza da terra e a dignidade do trabalho foram criadas para serem conjuntas”.
Por isso, alertou o Pontífice, “quando o trabalho se afasta da aliança de Deus com o homem e com a mulher, quando se separa a qualidade espiritual, quando vira refém da lógica do lucro… A vida civil se corrompe e o habitat se arruína e as consequências atingem sobretudo os mais pobres e as famílias”.
Modelo superado
“A organização moderna do trabalho mostra, às vezes, uma perigosa tendência a considerar a família como um obstáculo, um peso, uma passividade para a produção do trabalho”, disse ainda o Papa. “Mas qual produtividade? E para quem?”, questionou.
O Papa então recordou que esse modelo de organização que, com frequência, vemos nas “cidades inteligentes” – sem dúvidas, ricas em serviços e organização – muitas vezes descarta crianças e idosos. Quando a família “vira refém da organização do trabalho, ou atrapalha-o, então temos certeza de que a sociedade humana começou a trabalhar contra ela mesma!”.
Fé e perspicácia
Diante desse panorama, o Papa falou que as famílias cristãs têm diante de si um “grande desafio e uma grande missão”. “Estas – disse o Pontífice – “trazem para o jogo os fundamentos da criação de Deus: a identidade e a ligação do homem e da mulher, a geração dos filhos, o trabalho que domestica a terra e torna o mundo habitável”. E concluiu: “A perda destes fundamentos é algo muito sério, e na casa-comum já existem muitas fissuras! A tarefa não é fácil. É preciso fé e perspicácia”.
Fonte: Rádio Vaticana