Todo ser humano é, para si mesmo, um mistério. Consta de um corpo sujeito às vicissitudes naturais e de uma alma espiritual, que não conhece decrepitude, conserva todo o seu vigor ( embora nem sempre o manifeste, porque está sujeita ao funcionamento do cérebro e das faculdades corpóreas em geral): consequentemente pode-se falar da perene juventude da pessoa humana.
Nem todos têm consciência disso. Muitos, ao despontar dos primeiros sintomas da velhice, se encolhem e vão-se apagando aos poucos. Outros, porém, se esforçam para não perder o ânimo juvenil; dir-se-ia até que, quanto mais próximos se acham do fim de sua caminhada terrestre, tanto mais vigorosos de ânimo parecem. E quais seriam as características dessa perene juventude?
Podem-se assinalar as seguintes:
– Abertura ao presente e ao futuro, em vez de encolhimento no passado… Interesse pelo que acontece de novo e pelos desafios da vida. O jovem não perde o amor ao ideal e às causas nobres; sabe vibrar com os que as propugnam.
– Fé… Fé em Deus certamente e no seu convite para a vida eterna… Mas também fé no valor da vida, ainda que sofrida… Fé no valor da procura incessante pela Verdade e pelo Bem… Uma das características mais espontâneas do ser humano é ser sequioso… é desejar algo mais do que as coisas visíveis e sonoras que passam. Quem tem fé, saberá que quanto mais próximo estiver do fim de sua caminhada terrestre, tanto mais próximo estará também da consumação ou do encontro definitivo com a Beleza Infinita. Esta o vai invadindo sempre mais.
– Magnanimidade… Ter um ânimo magno, grande para vencer as intempéries da caminhada. Diria São Paulo: “Não te deixes vencer pelo mal, mas vence o mal com o bem” (Rm 12,21). Com outras palavras: “Não sejas mesquinho nem pusilânime, fechado em ti mesmo”. A luta em prol das causas nobres é sempre rica de esperança, pois não pode vir a ser frustrada a criatura cujo Divino Fabricante a fez para o Infinito e lhe imprimiu na alma o selo do Infinito.
Está claro que a fé cristã só pode corroborar os dados que a própria observação psicológica aponta. O cristão tanto mais jovem deve ser quanto mais longe ou quanto mais chegado à eternidade estiver. Os Santos deixaram-nos eloquentes testemunhos desse paradoxo: ânimo juvenil em um corpo desgastado… Testemunhos dos quais um dos mais recentes e significativos é o do saudoso Papa João Paulo II. Anteriormente a ele sejam registrados Giovanni Papini, Helen Keller, Marie Heurtin…
Essas reflexões impõem-se a todas as idades. Não é no fim da caminhada terrestre que se vai começar a pensar no ponto de chegada. Todo caminheiro deseja quanto antes chegar ao termo da viagem; ele não o pode esquecer sob pena de cair num precipício. A pessoa sábia há de cultivar sempre a juventude psicológica ou o amor às causas grandes e nobres e, por excelência, o profundo e constante anseio do Bem Absoluto, que também é a Beleza Infinita.
“Senhor, Tu nos fizeste para Ti, e inquieto é o nosso coração enquanto não repousar em Ti” (S. Agostinho, Confissões I 1).
Autor: Dom Estevão Bettencourt