Dize-me como rezas e te direi quem sois. Somos convidados a luz da oração autêntica do publicano examinar a forma e a prática de nossa oração. Não raro nos colocamos diante de Deus como se fosse um Prefeito para atender nossas reivindicações ou pior reconhecer nossas virtudes e planilha de serviços.
Outras vezes recorremos ao subterfúgio de mostrar-nos mais cumpridores que os outros e por tanto como o fariseu da parábola, merecedores dos favores e dos milagres de Deus. A oração é antes que nada relacionamento gratuito e espontâneo com o Pai dos Céus, brota de um coração grato e reconhecedor das faltas, erros, imperfeições que temos e também na confiança plena na misericórdia divina. Devemos apresentar-nos como pecadores, réus confessos, filhos pródigos necessitados do perdão e da compaixão do nosso Deus.
Quando o cônego Havelin na Igreja de Mont Martre em Paris, discorria como Jesus para salvar-nos tinha assumido por inteiro a figura do servo que opta pelo último lugar para resgatar-nos, um jovem arrogante e por certo insuportável chamado Charles de Foucauld, sentiu que seu coração tinha um estremecimento e o sufocava. Mais tarde converteu-se devido ao impacto desta pregação que tinha desnudado a sua alma.
O irmão Charles de Foucauld se tornou eremita, foi viver no deserto entre os tuaregs sendo considerado justo e benigno pelos muçulmanos, morrendo assassinado. Mahatma Ghandi o profeta da não violência e da firmeza da verdade afirmava: “Devo reduzir-me a zero. Enquanto um homem não se considera espontaneamente o último, não há para ele salvação”. Ou ainda São Francisco de Sales: “Só se sobe quando se desce”.
Num tempo que a visibilidade e o marketing vendem tudo, é importante não perder a alma, recordando sempre que a humildade é o chão de todas as virtudes e o caminho mais seguro para o Reino. Que Nossa Senhora do Rosário mestra da oração simples, humilde e autêntica, nos ensine a não caírmos nas armadilhas da auto suficiência na oração mas entregar confiantes nosso coração ao Pai Clemente e Misericordioso. Deus seja louvado!
Dom Roberto Francisco Ferreria Paz
Bispo Diocesano de Campos (RJ)