Em seu mais recente artigo, Dom Francisco Javier Delvalle Paredes, Bispo da Diocese de Campo Mourão, no Estado do Paraná, teceu algumas considerações sobre a importância da Palavra de Deus, pois setembro é, costumeiramente conhecido como “mês da Bíblia”. Segundo ele, isso se deve ao fato de a memória litúrgica de São Jerônimo, exímio estudioso das Escritura que foi proclamado doutor da Igreja pelo Papa Bonifácio VIII em 1298, ocorrer no dia 30 de setembro.
Para o Prelado, a Palavra Divina é prova do amor inesgotável de Deus que, falando ao ser humano, deseja lhe comunicar a abundância da sua vida e do seu plano salvífico-libertador. Assim sendo, o Bispo destaca que ela só se faz realmente experimentar quando acolhida no plano do diálogo, em que Deus fala e o homem é chamado a ouvir. “Ouvir, não simplesmente do ponto de vista do raciocínio que busca entender. Ouvir segundo a dinâmica da experiência que provém da Fé movida pela graça que só Deus pode dar”, explica.
Pensando nisso, São Boaventura escreveu: “É impossível a alguém se propor conhecer a Sagrada Escritura antes de receber a Fé em Cristo em si, infundida como lâmpada, porta e mesmo fundamento de toda ela” (Breviloquium, 5,201). Conforme Dom Paredes, ter Fé é o critério fundamental para o sadio relacionamento com a mensagem divina presente na Escritura, pois a Fé, por sua origem sobrenatural, nos permite transpor o limite da superficialidade, penetrando e sentido íntimo de cada vocábulo e expressão do texto sagrado.
“É também a Fé que nos possibilita alargar os horizontes, concluindo que a Palavra de Deus ultrapassa a letra, trazendo consigo a linguagem de Deus compreensível aos corações sensíveis e às consciências despertas à verdade. A isso a Igreja chama Tradição, ou seja, Deus falou plenamente no Mistério do seu Filho, encarnado, morto e ressuscitado para a salvação do mundo. Deus ofereceu sua Revelação às testemunhas, que anunciaram o que viram e ouviram. Paralelamente ao anúncio surgiram os escritos do Novo Testamento. O texto escrito, porém, não pode ser absolutizado como único modo de Deus falar”, avalia o Prelado.
Ainda conforme o Bispo, tal absolutização conflui no fundamentalismo, erro fatal que “evita a íntima ligação do divino e do humano nas relações com Deus” (Verbum Domini, 44). Dom Paredes afirma que em Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, essa ligação negada pelo fundamentalismo passou a ser critério de autenticidade para a vida de Fé. Ele destaca que ciente da necessidade de acolher a mensagem divina em plenitude, Paulo exortou aos tessalonicenses: “Portanto, irmãos, ficai firmes; guardai as tradições que vos ensinamos oralmente ou por escrito”.
Por fim, o Prelado salienta que apoiada nesta afinada reflexão do Apóstolo, a Igreja reconhece na Sagrada Escritura a fonte primeira da Revelação. Entretanto, de acordo com o Bispo, a Igreja acolhe também como constitutivo da Fé eclesial a mensagem revelada na Tradição oral transmitida desde os primeiros séculos, e na reflexão do Magistério dos Papas em comunhão com o Colégio dos Bispos, sucessores dos apóstolos.
Dom Paredes também reforça que, assistida pelo Espírito Santo, a Igreja não se cansa de explorar a Escritura, trazendo à luz aquilo que nela se encontra de maneira velada. Para ele, deste modo, os diversos aspectos da sua doutrina não são invenção da instituição: são, na verdade, produto deste trabalho de perícia nas Escrituras Sagradas sob a força e guia do Espírito Santo.
“Setembro é celebrado como mês da Bíblia. Busquemos, pois, ouvir mais atentamente o que Deus nos quer falar através da sua Palavra e do seu agir na história humana. Dóceis ao Espírito de sabedoria sejamos sensíveis, aptos a transpor o véu da letra e nos convencer do grande amor divino escondido sob cada palavra, texto e expressão da Escritura”, conclui.
Fonte: Gaudium Press