Dedico esta reflexão à Professora Heley de Abreu Silva Batista, de Janaúba (MG) que, com o corpo em chamas, lutou para salvar as crianças. Católica, devota de Nossa Senhora Aparecida soube testemunhar, com radicalidade os sentidos da Fé.
O dia dos Professores é comemorado desde 15 de outubro de 1827, quando foi decretado o Ensino Elementar no Brasil por Dom Pedro I. O Decreto instituiu a criação das escolas de primeiras letras e deliberou sobre várias questões relacionadas à Educação, aos Professores, às práticas pedagógicas e aos conteúdos a serem ensinados.
Em 1947 o sistema escolar tinha semestre muito extenso, o que fez com que os Professores ficassem estafados, por trabalharem direto e sem folga. Foi neste contexto, que um grupo de docentes, liderados pelo Professor Samuel Becker, organizou um dia de descanso, lazer e entretenimento na escola. O dia da confraternização ficou marcado para o dia 15 de outubro. Foi uma bela festa entre Professores e alunos. Um dia de descanso para amenizar a estafa. Todos contribuíram levando guloseimas para o lanche.
Esse dia de Confraternização passou acontecer todos os anos. No entanto, em 1963 foi decretado pelo Presidente João Goulart, o feriado do Dia do Professor. O Decreto Federal 52.682, de 14 de outubro de 1963 legislou: “Para comemorar condignamente o Dia do Professor, os estabelecimentos de ensino farão promover solenidades, em que se enalteça a função do mestre na sociedade moderna, fazendo participar os alunos e as famílias”.
Após 70 anos do primeiro dia dos Professores e 54 anos do decreto, ainda convivemos com a situação estafa dos Professores. Ouvindo e consultando os professores, pessoalmente ou pelas redes sociais, encontrei Professores necessitados de refazerem as energias, o encantamento, a disposição e a esperança. Ao serem indagados, fica clara a dificuldade de responderem se há ou não o que comemorar no Dia dos Professores. Muitos são os fatores que levam dizer não e muitos também são os fatores que levam dizer sim. No entanto, as respostas sendo sim ou não, duas questões são intensas. A primeira: os Professores reconhecem que têm uma bela e singular Missão! A segunda: Os Professores também reconhecem que estão assoldados pelo desencanto e pela desesperança!
Quais os motivos para o desencanto e para a falta de esperança? A banalização da profissão, desvalorização salarial, jornada dupla (ou tripla), indisciplina dos alunos, a falta de apoio social… Muitos Professores estão abalados emocionalmente e caem no estresse e na desesperança que os jogam na depressão. Alguns Professores não conseguem lidar sozinhos com tais situações e se esgotam. Muitos diagnosticados com síndrome de burn out. Sem resgatar a esperança o vazio interior se estabelece e aniquila a disposição. Papa Bento XVI, na Carta à Diocese e à cidade de Roma sobre a tarefa urgente da formação das novas gerações (2008) ensina: “(…) alma da educação, como da toda a vida, só pode ser uma esperança certa. Hoje a nossa esperança está insidiada de muitas partes e corremos o risco de nos tornarmos, também nós, como os antigos pagãos, homens ‘sem esperança e sem Deus neste mundo’ como escrevia o apóstolo Paulo aos cristãos de Éfeso (2, 12). Precisamente daqui nasce a dificuldade talvez mais profunda para uma verdadeira obra educativa: na raiz da crise da educação está de facto uma crise de confiança na vida.
Apesar de toda angustia que têm com sua própria condição, é a realidade do aluno, um dos grandes dilemas dos Professores que acreditam no seu papel e lugar. Eles lidam, todos os dias, com realidades humanas muito tristes. Os alunos são carentes de muitas coisas no campo material, emocional, afetivo. Os Professores, conscientizando-se e envolvendo-se com a realidade específica do aluno, deparam-se com a incapacidade diante de tais sofrimentos e se desestruturam por não conseguirem dar conta da mudança desta realidade.
Sendo o cenário de sua atuação tão conflituoso e complexo, os Professores, no imediato da análise passional, podem responder que não há o que comemorar. No entanto, em meio às trevas há luz. Ao compreenderem que têm uma bela e singular Missão, os Professores iluminam as próprias trevas e alimentam a chama que ainda fumega. “Não esmagará a cana quebrada, e não apagará o pavio que fumega, até que faça triunfar o juízo”(Is 42, 3).
É pertinente lembrar que o contexto que envolve os Professores, é o mesmo que envolve toda a sociedade. Estamos passando por crises econômicas e políticas, mas também vivenciamos uma grave crise ética e moral. Uma crise de valores e de desencantamento, da ausência da esperança. Papa Francisco na Audiência Geral, de 20 de setembro de 2017, disse: “… O mundo caminha graças ao olhar de tantos homens que abriram frestas, que construíram pontes, que sonharam e acreditaram; mesmo quando ao seu redor ouviam palavras de escárnio (…) Os homens que cultivaram esperanças são também aqueles que venceram a escravidão e levaram melhores condições de vida sobre esta terra. (…) E cada dia peça a Deus o dom da coragem. Lembre-se que Jesus venceu por nós o medo. Ele venceu o medo! O nosso inimigo mais difícil não pode nada contra a fé”.
Assim como na origem do dia dos Professores, é preciso buscar alternativas para que os Professores sejam aliviados do fardo. Não do fardo de ser Professor, pois não é fardo, mas Bênção! Porém, aliviar o fardo de ser desumanizado e de ver minimizada sua honrosa profissão.
Como Santa Tereza D’Ávila, a Grande Doutora da Igreja e Padroeira dos Professores, possamos nos lembrar, uns aos outros, na hora da angústia e da falta de esperança: “Nada te perturbe, nada te assuste, tudo passa. Deus não muda. A paciência tudo alcança. Quem a Deus tem nada lhe falta. Só Deus basta!”.
Fonte: A12.