Uma das palavras mais usadas – e desgastadas – atualmente é “amor”. Convém, portanto, refletir um pouco sobre a quantas anda o amor na nossa vida.
O primeiro ponto a pensar talvez seja qual a nossa concepção de amor. O que acreditamos que seja o amor?
Algumas pessoas pensam que amar é dar coisas e ser amado é recebê-las. Outras acreditam que amar é fazer algo por alguém, como pais que dizem aos filhos: “Você não percebe o quanto trabalho por você?”, outros até dizem que são “funcionários dos filhos”. Outros ainda medem o amor através das palavras: amar é dizer que ama…
A concepção bíblica de amor passa pelo dom não de objetos ou coisas, mas do que se tem de mais precioso: “Deus amou de tal modo o mundo que lhe deu seu filho único”, define São João a forma como o Pai amou a humanidade. “Amai-vos uns outros como eu vos amei”, diz Jesus, que nos amou até a consumação total de sua vida. Portanto, amar é fazer-se dom.
Para mim, pessoalmente, o dom – ou o amor – pode ser definido através da junção de Marta e Maria: a ação e a contemplação, a obra e a escuta, a ação e a palavra, a objetividade e a subjetividade, a serva e a apaixonada. Uma forte característica do amor é, com efeito, estar atento às realidades do outro. Lembra-se de Maria nas bodas de Caná? Ninguém disse a ela que o vinho acabara, foi ela que o percebeu e tomou providências para resolver esse problema.
O corre-corre de hoje nos torna de certa forma anestesiados às realidades mais profundas e acabamos nos detendo na superfície das coisas. Só vemos – ou só “temos tempo de ver” – as grandes obras, e aquelas mais simples e corriqueiras passam despercebidas.
Assim, deixamos de dar atenção ao que realmente a merece. Pense um pouco: você tem agradecido às pessoas com quem convive pelo dom que são em sua vida? Pela ajuda que lhe dão? Tem elogiado as coisas boas que têm feito? Quando foi a última vez que você disse que o alimento preparado em casa estava saboroso? E que os olhos do seu filho são bonitos? Que o sorriso do seu esposo – da sua esposa – ajuda a aliviar suas dores?… Às vezes até lembramos de elogiar, mas somente aqueles com quem trabalhamos, estudamos ou desempenhamos alguma outra atividade. Mas os de casa é que devem ser o alvo primeiro da nossa atenção e gratidão.
Elogiar, parabenizar, agradecer, dar um sorriso encorajador, uma palavra de incentivo, um olhar de aprovação, isso se chama validação, ou seja, reconhecer o valor que o outro tem, demonstrar que tem visto que ele é um ser especial, único e importante; reconhecer que o que ele é e faz tem valor! Isso é comunicação de vida. Por vezes só saltam aos olhos os limites – alguns dizem “defeitos” – dos outros, aquilo que fazem de “errado” ou de uma forma que não nos agrada. Então corremos a reclamar e a indicar-lhes o erro, a tecer críticas e acusações. Essa atitude, porém, vai aos poucos minando o amor e, consequentemente, gerando atmosfera de “morte”. Quantas casas vivem em clima de guerra, qualquer comentário mais duro gera uma verdadeira batalha, as pessoas são tristes e não confiam umas nas outras?! Ao contrário, se nos validamos uns aos outros, nossas relações tornam-se seiva pura, cheias daquela fecundidade própria do Espírito. E nós fomos criados para a vida!
Com efeito, o que realmente vale a pena na vida é amar. Já dizia o grande místico João da Cruz: “No entardecer da vida seremos julgados pelo amor”, isto é, nossos atos serão medidos na balança do amor.
Então, nossas ações são motivadas pelo desejo de conseguir dinheiro, poder, reconhecimento… ou para amar e promover o amor?
Maria Auristela B. Alves
Fonte: ComShalom.