06 Mai 2016
São João Ante a Porta Latina, apóstolo e evangelista (+95)

Imberbe e meigo, nos apresentam São João, el Greco e todos os demais pintores. Mas os Boanerges, os filhos do trovão, Tiago e João, deviam ser um par jovens de vincado carácter. Estavam bem curtidos pelos ares do mar, assim como o pai Zebedeu, com as tormentas do lago de Genezaré. Quando se juntam ao Rabi de Nazaré, e não os querem receber na Samaria, exprimem o seu desejo de que desça fogo do céu e os destrua a todos.

Eram homens de boa vontade, mas tinham muito a aprender. Um dia a mãe, certamente empurrada por eles, atreve-se a pedir a Jesus Crista os dois primeiros lugares para os filhos Não sabiam o que pediam. Quando mais tarde João apoiar a cabeça sobre o peito de Jesus, compreenderá tudo. «O que apoiar a sua cabeça sobre o peito do Senhor, será teólogo» (Evágrio).

Ao pedido da mãe segue-se a resposta de Jesus, mas dirigida a eles. - Podeis beber o cálice que eu vou beber? - Podemos, responderam, resolutos. - Sim, um dia bebereis o meu cálice, garante-lhes Jesus. E a predição do Senhor cumpriu-se. A Tiago mandou-o degolar o rei Herodes. É o protomártir dos apóstolos. Logo a seguir virão os outros. São João, com o seu martírio frustrado, encerra com broche de ouro a epopeia dos Doze.

Depois da perseguição de Nero, a Igreja desfrutou de vários anos de paz. Mas o imperador Domiciano, que no princípio tinha sido suave e conciliador, tornou-se receoso e violento. Depois de imolar vários membros da própria família e da nobreza romana, no ano 95 renovou a perseguição contra a igreja, estendendo-a até à Ásia Menor.

Ali estava João, quase centenário, em Efeso. Depois de ter sido fiel custódio e capelão da Virgem Maria, dali continuava a iluminar a cristandade. «Coluna de todas as Igrejas do Universo», como lhe chama Crisóstomo, dali escreve às sete Igrejas apocalípticas, e difunde a luz da fé por todas as regiões do oriente.

João ia perdendo já toda a sua esperança de martírio. Tinham sucedido muitas perseguições, tinham morrido, mártires, todos os apóstolos e muitos dos seus discípulos. Mas Deus parecia recusar-lhe a palma do martírio que tantos tinham conquistado. Que queriam dizer as palavras de Jesus a Pedro: «Se eu quero que ele permaneça, a ti que te importa?»

É então que chega a Éfeso a notícia de que Domiciano acaba de renovar a perseguição contra os cristãos, o que Tertuiiano chamava o Institutum Neroníanum. E o venerável ancião repete, agora com mais conhecimento e com maior entusiasmo, a resposta afirmativa que o seu irmão dera à pergudta de Jesus. Esta a disposto, jubilosamente, para o holocausto, para a imolação. O seu desejo ia cumprir-se.

Um dia vieram buscá-lo e levaram-no preso para Roma. O imperador quer julgá-lo pessoalmente, e condena-o a ser lançado, nu, numa caldeira de azeite a ferver, o que se executa a 6 de Maio do ano 95, junto à porta que dá para o Lácío, a Porta Latina. Mas o azeite a ferver respeitou o seu corpo que saiu da caldeira ileso e rejuvenescido.

João é deportado para Patmos, uma ilha da Grécia, onde os condenados à morte eram enviados para as minas. Ali vive João até à chegada de Nerva no ano 96. Ali um dia «a águia de Patmos» ouve uma voz que lhe diz: «Escreve o que vires e envia-o às sete Igrejas». Jesus Cristo revela-lhe o presente e o futuro. E João escreve o Apocalipse «onde cada palavra é um mistério» (São. Jerônimo). Pouco depois volta a Éfeso.