Prezados irmãos e irmãs
Com efeito, assim como a vida se transmite de geração em geração, também de geração em geração, através do renascimento na pia batismal, é transmitida a graça, e com esta graça o Povo cristão caminha no tempo como um rio que irriga a terra e propaga no mundo a bênção de Deus. Desde que Jesus disse o que ouvimos do Evangelho, os discípulos partiram para batizar; e desde aquela época até hoje há uma cadeia na transmissão da fé mediante o Batismo. E cada um de nós é um elo daquela corrente: um passo em frente, sempre; como um rio que irriga. Assim é a graça de Deus, assim é a nossa fé, que devemos transmitir aos nossos filhos, às crianças, para que elas, quando forem adultas, possam transmiti-la aos seus filhos. Assim é o batismo. Porquê? Porque o batismo nos faz entrar neste Povo de Deus, que transmite a fé. Isto é deveras importante. Um Povo de Deus que caminha e transmite a fé.
Em virtude do Batismo nós tornamo-nos discípulos missionários, chamados a levar o Evangelho ao mundo (cf. Exortação Apostólica Evangelii gaudium, 120). «Cada um dos batizados, independentemente da própria função na Igreja e do grau de instrução da sua fé, é um sujeito ativo de evangelização… A nova evangelização deve implicar um novo protagonismo» (ibid.) da parte de todos, de todo o Povo de Deus, um novo protagonismo de cada batizado. O Povo de Deus é um Povo discípulo — porque recebe a fé — e missionário — porque transmite a fé. É isto que o Batismo faz entre nós: confere-nos a Graça, transmite-nos a Fé. Todos na Igreja somos discípulos, e somo-lo sempre, a vida inteira; e todos nós somos missionários, cada qual no lugar que o Senhor lhe confiou. Todos: até o mais pequenino é missionário; e aquele que parece maior é discípulo. Mas algum de vós dirá: «Os Bispos não são discípulos, eles sabem tudo; o Papa sabe tudo, e não é discípulo». Não, até os bispos e o Papa devem ser discípulos, pois se não forem discípulos não farão o bem, não poderão ser missionários nem transmitir a fé. Todos nós somos discípulos e missionários.
Existe um vínculo indissolúvel entre as dimensões mística e missionária da vocação cristã, ambas arraigadas no Batismo. «Ao receber a fé e o batismo, os cristãos acolhem a ação do Espírito Santo, que leva a confessar a Jesus como Filho de Deus e a chamar Deus “Abba”, Pai. Todos os batizados e batizadas… são chamados a viver e a transmitir a comunhão com a Trindade, pois “a evangelização é um chamado à participação da comunhão trinitária”» (Documento final de Aparecida, n. 157).
Ninguém se salva sozinho. Somos uma comunidade de fiéis, somos Povo de Deus e nesta comunidade experimentamos a beleza de compartilhar a experiência de um amor que nos precede a todos, mas que ao mesmo tempo nos pede para ser «canais» da graça uns para os outros, apesar dos nossos limites e pecados. A dimensão comunitária não é apenas uma «moldura», um «contorno», mas constitui uma parte integrante da vida cristã, do testemunho e da evangelização. A fé cristã nasce e vive na Igreja, e no Batismo as famílias e as paróquias celebram a incorporação de um novo membro a Cristo e ao seu corpo, que é a Igreja (cf. ibid., n. 175b).
A propósito da importância do Batismo para o Povo de Deus, é exemplar a história da comunidade cristã no Japão. Ela padeceu uma perseguição árdua no início do século XVII. Houve numerosos mártires, os membros do clero foram expulsos e milhares de fiéis foram assassinados. No Japão não permaneceu nem sequer um sacerdote, todos foram expulsos. Então, a comunidade retirou-se na clandestinidade, conservando a fé e a oração no escondimento. E quando nascia um filho, o pai ou a mãe batizavam-no, pois todos os fiéis podem batizar em circunstâncias particulares. Quando, depois de cerca de dois séculos e meio, 250 anos mais tarde, os missionários voltaram para o Japão, milhares de cristãos saíram do escondimento e a Igreja conseguiu reflorescer. Sobreviveram com a graça do seu Batismo! Isto é grande: o Povo de Deus transmite a fé, batiza os seus filhos e vai em frente. E apesar do segredo, mantiveram um vigoroso espírito comunitário, porque o Batismo os tinha levado a constituir um único corpo em Cristo: viviam isolados e escondidos, mas eram sempre membros do Povo de Deus, membros da Igreja. Podemos aprender muito desta história!
Papa Francisco