04 Mar 2015
Virgem Simples

Mas repara bem: a Virgem Maria não teve nem triunfo nem milagres, Seu Filho não consentiu que a glória mundana a aflorasse sequer com a mais leve pena da sua grande asa selvagem. Ninguém viveu, ninguém sofreu, ninguém morreu tão simplesmente e numa ignorância tão profunda da sua própria dignidade, de uma dignidade que a coloca, no entanto, acima dos Anjos! Porque a verdade é que Ela tinha nascido sem pecado: que solidão espantosa! Uma fonte tão pura, tão límpida e pura que Ela podia ver refletir-se a sua própria imagem, feita únicamente para alegria do Pai: ó solidão sagrada! O olhar da Virgem é o único olhar verdadeiramente infantil, o único verdadeiro olhar de criança que se ergueu para fitar a nossa vergonha e a nossa desgraça. Sim, para rezar bem á Virgem Maria precisamos de sentir sobre nós esse olhar da terna compaixão, da surpresa dolorosa, de não sei que sentimento inconcebível, inexprímivel, que a tornou mais jovem que o pecado, mais nova do que a raça de onde veio, e, ainda que a Mãe pela graça, Mãe das Graças, a mais jovem do género humano.

Georges Bernanos, (1888-1948)