Devoção à Sagrada Face

O culto da Sagrada Face tem por fim principal render à Face adorável de Nosso Senhor Jesus Cristo, desfigurada na sua Paixão, homenagens particulares de respeito e de amor, reparar as blasfêmias e as violações dos dias santos, que O ultrajam de novo: enfim obter de Deus a conversação dos blasfemadores e dos profanadores dos dias santificados.

Esta tocante devoção, sempre conhecida e praticada na Igreja como incentivo poderoso à contribuição e à reparação, parece ter sido instituída pelo próprio Nosso Senhor no dia da sua morte, imprimindo milagrosamente as suas feições ensanguentadas sobre a toalha da piedosa Verônica.

A Santa Toalha conserva-se preciosamente em Roma, na Basílica Vaticana, onde está cercada da veneração dos fiéis.

É de notar que Nosso Senhor em nenhum sítio do seu adorável Corpo sofreu tantos e tão maus tratos, ultrajes e ignomínias, como em seu adorável Rosto, ao qual, de fato, se referem com mais insistência os Profetas e os Evangelistas.

Ultimamente Nosso Senhor. dignou-se chamar a atenção dos fiéis para esta importantíssima devoção revelando-se à Irmã MARIA PIERINA MICHELI das Filhas da Imaculada Conceição.

Ardente de amor a Jesus e às almas já desde criança, cedo se consagrou ao Senhor, chegando, aos poucos, a levar uma vida de completa imolação.

Na idade de 12 anos, na Sexta-feira Santa, em São Pedro de Milão, ouviu esta voz: “Ninguém me dá um beijo de amor na Face, para reparar o beijo de Judas!”.

Achando, na sua simplicidade, que todos os presentes tivessem ouvido, ao ver que continuavam a beijar só as Santas Chagas, entristeceu-se e exclamou no seu coração: “Eu dou-te o beijo de amor, Jesus! Espera!”.

Tomando o hábito religioso, continuou a sentir sempre mais o impulso à reparação e a compreender melhor a devoção à Sagrada Face.

Com o passar dos anos Jesus manifestava-se-lhe, de vez em quando, ora triste, ora ensanguentado, pedindo sempre reparação. E crescia sempre mais no coração da Irmã M. Pierina o desejo de sofrer e de se sacrificar…

Durante a oração noturna da primeira Sexta-feira da Quaresma de 1936, Jesus, depois de havê-la feito participante das dores da ago­nia no Getsémani, disse-lhe, mostrando a Sua Face coberta de sangue e tomada de grande tristeza: “Quero que a minha Face, que reflete a íntima aflição do meu ânimo, a dor e o amor do meu Coração, seja mais honrada.

Quem Me contempla, consola-Me!”.

Na próxima Terça-feira da Paixão Jesus tornou a dizer-lhe: “Cada vez que se contemplar a minha Face, derramarei o meu Amor nos corações e por meio da minha Sagrada Face obter-se-á a salvação de muitas almas.

E na Terça-feira da Paixão de 1937: “Pode ser que algumas almas receiem, que a devoção e o culto da minha Face venham a diminuir a do meu Coração. Diz-lhes que, ao contrário, será completada e aumentada. Contemplando a minha Face, as almas participarão das minhas Dores, e sentirão a necessidade de amar e reparar. Pois não será esta a verdadeira de­voção ao meu Coração?”.

Em Maio de 1938, estando ela em oração, apareceu-lhe sobre o altar, numa esfera de luz, uma Senhora que tinha na mão um escapulário, formado de dois pedaços de flanela, unidos por uma corda. Num viu a imagem da Sagrada Face de Jesus com as palavras: “Ilumina Domine, Vultum Tuum super nos!” (Fazei res­plandecer sobre nós, Senhor a Vossa Face (Sal­mo 66) e no outro uma Hóstia, cercada de raios e com as palavras em volta: “Mane nobiscum, Domine!” (Ficai connosco, Senhor) (Luc. 24,29).

Lentamente então esta Senhora aproximou-se e disse-lhe: “Escuta bem e transmi­te ao teu Padre Confessor que este escapulário é uma arma de defesa, um escudo de fortale­za, um penhor de misericórdia que Jesus quer dar ao mundo, nestes tempos de sensualidade e de ódio contra Deus e a Igreja. Os verdadei­ros apóstolos são poucos. E necessário um remédio divino e este remédio é a Sagrada Face de Jesus.

Todos aqueles que trouxerem um escapulário como este e fizerem, sendo-lhes possível, uma visita cada Terça-feira ao Santíssimo Sacramento, para reparar os ultrajes que recebeu a Face de meu Filho durante a sua Paixão e que recebe cada dia no Sacramento Eucarístico, serão fortificados na fé, estarão prontos para defendê-la, e hão-se superar todas as dificuldades internas e externas. E além disso terão uma morte serena sob o olhar de meu Filho divino.

Também os avisos de Nossa Senhora se tornavam cada vez mais insistentes, dizendo que não estava em poder da Irmã Pierina executá­los, mas de dinheiro para custear as despesas.

No mesmo ano Jesus apareceu-lhe de novo, e, ainda suando sangue, disse com grande tristeza: “Vê como sofro! E de poucos sou compreendido. Quanta ingratidão por parte daqueles que dizem que me amam! Tenho dado o Meu Coração como objeto sensibilissimo do Meu grande amor pelos homens, e dou a Minha Face como objeto sensível da Minha dor pelos pecados dos homens. Quero que seja honrada com uma festa própria na Terça-feira da Quinquagésima, festa precedida por uma novena, durante a qual todos os fiéis façam reparação Comigo, unindo-se à participação da Minha dor”.

Em 1939 Jesus disse-lhe nova­mente: “Quero que a Minha face seja venerada particularmente nas Terças-feiras”.

A Madre Maria Pierina julgava mais urgente o pedido de Nossa Senhora: solicitou por isso logo do seu diretor espiritual a devida licença e meteu mãos à obra embora lhe faltas­sem todos os meios. O fotógrafo Bruner deu-lhe licença de cunhar medalhas conforme o quadro reproduzido por ele do Santo Sudário de Turim e, aos 9 de Agosto de 1940, recebeu também a devida licença da Ven. Cúria de Milão, permitindo fazer medalhas da Sagrada Face, o que então era proibido. Mas como executar o seu desejo sem recurso algum? Certo dia de manhã, quando o Irmã Maria Pierina entrou no seu quarto, encontrou sobre a mesa um sobrescrito que continha onze mii e duzentas liras, precisamente a quantia a dispender.

O demônio enraivecido por isso, atormentou aquela alma para lhe impedir a divulgação da medalha, empurrou-a pelos corredores e pelas escadas e tirou-lhe quadros e imagens da Sagrada Face. Mas a Irmã Maria Pierina suportou tudo isto e ofereceu mais estes sofrimentos, para que a Sagrada Face fosse venerada.

Preocupada por ter mandado fazer meda­lhas e não escapulários, a Irmã recorreu a Nossa Senhora.

No dia 7 de Abril de 1943, a Santíssima Virgem apareceu-lhe e disse “Minha filha, não te preocupes, pois o escapulário é substituído pela medalha, com as mesmas promessas e favores. Só resta difundi-la mais ainda. Agora interessa-me muito a festa da Sagrada Face de meu Divino Filho. Di-lo ao Papa que esta festa tanto me interessa.” Em seguida abençou-a e desapareceu.

A medalha foi cunhada, sendo a primeira para o Santo Padre, gloriosamente reinante. Depois começou a ser distribuída e logo reconhecida como miraculosa. Soldados camponeses, homens, mulheres, jovens, velhos, crianças, sãos, enfermos, encarcerados; prisioneiros de guerra, cristãos, judeus: todos experimentam o seu prodigioso efeito. Em terra e no mar, nos aviões e nos submarinos, alcançaram-se graças e milagres sem fim, quase incríveis. Não há noticia de um só condenado à morte, que trazendo a medalha, tivesse sido executado: Todos foram salvos.

Madre Maria Pierina faleceu, unindo-se Àquele que amou tanto, aos 26 de Junho de 1945. A sua morte não teve as características da morte dos homens em geral; foi uma passagem de Amor, como ela mesmo escreveu no seu diário aos 19 de Julho de 1941: “Tenho sentido uma imensa necessidade de viver sem­pre mais unida a Jesus, de amá-lo intensamen­te, para que a minha morte não seja outra coi­sa que uma passagem de amor ao Meu Jesus”.

Para merecer as graças da medalha da Sagrada Face, é preciso trazê-la e rezar cada dia, cinco ” Glória ao Pai…” em honra da Divina Face. Fazendo assim com certeza absoluta terá, cedo ou tarde, a prova de trazer consigo um poderoso escudo de proteção.